O Porto de Leixões, localizado no município de Matosinhos, é uma infraestrutura portuária de referência em Portugal, desempenhando um papel crucial no abastecimento das regiões Norte e Centro do país. Além disso, tem vindo a expandir a sua influência para o hinterland, fortalecendo as ligações comerciais com as regiões espanholas mais próximas, consolidando-se como um pilar fundamental da indústria exportadora nacional.
Com o avanço das dinâmicas económicas nacionais e as metas ambientais impostas pela União Europeia, torna-se imperativo que o Porto de Leixões se adapte e invista na modernização das suas infraestruturas. É essencial acompanhar o crescimento económico, promover a economia circular e integrar energias renováveis, tirando o máximo partido da infraestrutura marítima e dos sistemas de proteção costeira já existentes.
É fundamental compreender a importância estratégica do Porto de Leixões e a necessidade de fomentar o transporte marítimo em detrimento do rodoviário. Essa mudança contribuirá para a redução das emissões de carbono, da poluição, do congestionamento rodoviário e dos riscos de acidentes, garantindo uma logística mais eficiente e sustentável para o país.
O abastecimento das regiões Norte e Centro
Como principal porto do Norte de Portugal, Leixões é a principal porta de entrada e saída de uma vasta gama de mercadorias essenciais ao funcionamento das economias nacional e regional. A sua localização estratégica, a norte da foz do rio Douro e próximo da cidade do Porto, facilita a distribuição eficiente de bens para o interior do país e para a Galiza.
Diversos setores industriais dependem diretamente das operações do porto para importar matérias-primas e exportar produtos acabados. Entre eles, destacam-se a distribuição de bens de grande consumo, a indústria da construção, têxtil, calçado, alimentar e agroalimentar. A sua capacidade de operar com diferentes tipos de carga – contentorizada, granéis líquidos e sólidos, carga geral – confere-lhe uma versatilidade essencial para responder às exigências do mercado global.
Além disso, o Porto de Leixões é um dos principais motores económicos da região, contribuindo significativamente para o emprego e o Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Estima-se que o porto seja responsável por cerca de 7% do emprego em Portugal e por 6% do PIB nacional. A sua atividade está intrinsecamente ligada a diversos clusters industriais no Norte e Centro do país, proporcionando uma plataforma logística eficiente que permite às empresas nacionais competir em mercados internacionais.
Para manter essa relevância, é imprescindível que o Porto de Leixões continue a investir na modernização das suas infraestruturas e na expansão da sua capacidade operacional. Projetos de melhoria e proteção da entrada marítima, aprofundamento da bacia de rotação e extensão do quebra-mar são essenciais para receber navios de maior porte, aumentando a competitividade do porto. Sem essas melhorias, a capacidade de movimentação de carga será insuficiente para sustentar o crescimento económico da região e responder às exigências de um mercado global em constante evolução.
Sustentabilidade e transição energética
A transição para práticas mais sustentáveis e ambientalmente responsáveis é uma prioridade para o Porto de Leixões. No contexto atual, onde a redução das emissões de carbono e o desenvolvimento de soluções energéticas renováveis são imperativos globais, é essencial que o porto se modernize para integrar tecnologias mais limpas e eficientes.
Uma das medidas mais relevantes para a descarbonização do setor marítimo é a introdução de combustíveis alternativos. Estes combustíveis permitirão reduzir significativamente as emissões poluentes e aumentar a eficiência energética do porto. Além disso, a instalação de sistemas OPS (Onshore Power Supply) possibilitará que os navios desliguem os motores auxiliares durante a atracação, reduzindo as emissões de CO₂ e partículas poluentes.
Não permitir a modernização do Porto de Leixões é ser contra Portugal e contra o desenvolvimento das regiões Norte e Centro.
A economia circular também deve ser fomentada, promovendo a reutilização e reciclagem de resíduos portuários e a otimização do consumo de recursos. A Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) já tem implementado iniciativas que incentivam essas práticas, mas é fundamental ampliar os investimentos para consolidar o Porto de Leixões como um modelo de sustentabilidade e inovação industrial.
Além das questões ambientais, o compromisso com a sustentabilidade fortalece a atratividade do porto para empresas e investidores que procuram alternativas logísticas alinhadas com as novas diretrizes ambientais da União Europeia.
Fomento do transporte marítimo com a Europa
A aposta no transporte marítimo de curta distância (Short Sea Shipping) é essencial para reduzir a dependência do transporte rodoviário, diminuir as emissões poluentes e descongestionar as estradas nacionais e europeias. O Porto de Leixões tem um papel fundamental nesta estratégia, permitindo a ligação eficiente com outros portos europeus e potenciando a criação de rotas sustentáveis.
Ao integrar-se nas chamadas “autoestradas do mar”, Leixões pode fortalecer as redes logísticas europeias, contribuindo para uma mobilidade de mercadorias mais eficiente e ecológica. No entanto, para que essa estratégia tenha sucesso, é necessário investir na ampliação da infraestrutura portuária, na digitalização dos processos logísticos e na melhoria das ligações ferroviárias que permitam um transporte intermodal mais eficaz com toda a Península Ibérica.
Se não forem feitos esses investimentos, a atratividade do porto poderá diminuir, prejudicando a sua capacidade de captação de novas rotas comerciais e desvalorizando o seu papel estratégico no contexto europeu.
O que acontece se o Porto de Leixões não se modernizar?
A ausência de modernização no Porto de Leixões terá impactos negativos profundos e duradouros para a economia e a sustentabilidade ambiental. Entre as principais consequências, destacam-se:
Perda de competitividade comercial
O porto perderá tráfego para concorrentes como Vigo e Bilbau, em Espanha, ou para os portos de Lisboa e Sines, tornando a logística mais cara para a região Norte e reduzindo a competitividade da indústria local.
Aumento dos custos logísticos
Sem capacidade para acomodar navios de grande porte, as empresas enfrentarão custos mais elevados de transporte e distribuição, encarecendo bens de consumo e comprometendo a economia regional.
Impactos no emprego
A limitação operacional do porto afetará diretamente o setor portuário e todas as indústrias dependentes do comércio marítimo, levando à redução de postos de trabalho e à desaceleração do crescimento económico no Norte e Centro de Portugal.
Congestionamento rodoviário e maior poluição
A falta de modernização levará a um aumento da dependência do transporte rodoviário, agravando o congestionamento nas estradas nacionais e europeias, elevando os custos ambientais e colocando Portugal em desvantagem nas metas ambientais da União Europeia.
Redução da capacidade de inserção nas redes logísticas europeias
Sem modernização, Leixões perderá espaço nas autoestradas do mar e terá dificuldades em atrair novas rotas e investimentos internacionais, comprometendo a sua relevância no comércio europeu.
Conclusão
A modernização do Porto de Leixões não é apenas uma necessidade operacional – é uma questão estratégica para o desenvolvimento do Norte e Centro de Portugal. Sem investimentos em infraestrutura, digitalização, sustentabilidade e integração nas redes logísticas europeias, o porto verá a sua relevância diminuir, colocando em risco a competitividade da economia e o emprego/qualidade de vida regional e nacional.
Garantir um Porto de Leixões moderno, eficiente e sustentável é assegurar o futuro da economia portuguesa. Ignorar essa necessidade significa comprometer o crescimento do país, aumentar os custos para as empresas e dificultar a transição para um modelo logístico mais ecológico e competitivo.
Não permitir a modernização do Porto de Leixões é ser contra Portugal e contra o desenvolvimento das regiões Norte e Centro.
VÍTOR CALDEIRINHA
Professor
Tudo isso é lógico e compreensível.
Mas se para se avançar com esse desenvolvimento se “matar” a náutica de recreio em Leixões, tudo estará mal.
Obrigado ao Dr. Vitor Caldeirinha pelo resumo completo, detalhado e muito aprofundado, como tenho escrito aqui de forma superficial há anos. O norte precisa do porto e do aeroporto para NÃO depender totalmente da Galiza e de Espanha !