A retoma da atividade num período pós-pandemia, enquadrada num desafiante contexto geopolítico, energético e económico-social a nível global, pautam a nova agenda dos CEO.
O estudo EY – Euromoney Institutional Investor 2022, realizado junto de mais de 280 CEO no setor da mobilidade e manufatura em mais de 40 países no último trimestre de 2021, permitiu gerar insights sobre as tendências, desenvolvimentos, e expetativas futuras.
- Riscos e oportunidades
Mais de 40% considera que a pandemia afetou profunda, permanente e negativamente o negócio. No contexto do setor, o impacto na indústria aeronáutica foi particularmente negativo, com quebras de atividade superiores a 90%.
Por outro lado, e apesar de cerca de 70% dos CEO considerar que a pandemia e as atuais tensões geopolíticas pesaram nas decisões de investimento cross-border, não existe consenso sobre o impacto real: parte das empresas refere que adiou ou cancelou investimentos, e outra parte aproveitou para acelerá-los. De facto, a pressão ainda hoje sentida no setor devido ao crescimento do comércio online continua a refletir-se na necessidade de reshoring das cadeias de abastecimento.
De igual forma, não existe consenso quanto à gestão da supply chain, com cerca de 20% dos CEO a indicar que a pandemia levou a empresa a reduzir o número de parceiros estratégicos: apesar de parecer contraintuitivo, esta decisão contribui para robustecer a cadeia de abastecimento através do fortalecimento das relações de parceria.
Por fim, os CEO participantes no estudo identificam como segundo principal risco para a sua estratégia futura de crescimento, logo após as atuais tensões geopolíticas / restrições ao comércio internacional / protecionismo, a aceleração dos impactos climáticos no negócio e a pressão por parte dos diversos stakeholders para aumentar a sustentabilidade ambiental e social das operações.
- Estratégias de crescimento
A maioria dos CEO reconhece que o setor pós-pandemia irá focar-se mais no crescimento orgânico, mas não será desejável, nem possível, “crescer por crescer”: é crítico garantir que é sustentável, nomeadamente que incorpora decisões e práticas de ESG.
De facto, cerca de 40% considera que os critérios ESG serão o principal driver de investimento nos próximos anos, acima da redução de custo ou eficiência de capital.
…cerca de 70% das empresas do setor refere existir resistência dos investidores ou acionistas sobre a estratégia de transição sustentável, nomeadamente questionando o retorno a longo prazo do investimento, ou a vantagem de ser first mover neste contexto.
Com as cadeias de valor em recuperação, mas fundamentalmente transformadas, é expectável a manutenção da tendência de aumento os preços da mão-de-obra (ainda reflexo da quebra de disponibilidade em resultado da pandemia) e matérias-primas.
Nesse sentido, a maioria dos CEO vê na tecnologia uma forma de sustentar a margem, nomeadamente automatizando funções laborais de elevado custo, escalar processos, reduzir custos de estrutura e digitalizar a interação com clientes.
- Otimização de portfolio e M&A
Face à incerteza provocada pela pandemia em 2021, o “apetite” dos CEO em prosseguir estratégias de M&A no setor caiu 12 p.p. face a 2020, mas atingiu em 2022 o valor mais alto da última década.
Cerca de um quarto dos respondentes define como prioridade da sua estratégia de M&A a aquisição de capacidades operacionais incrementais ou focadas em aumentar quota de mercado (após um período de desinvestimento e de foco nas operações core), mas cerca de 20% considera um movimento de M&A para melhorar a pegada ambiental da empresa.
- Sustentabilidade
A opinião dos CEO participantes do estudo divide-se quanto aos principais drivers da sua estratégia de sustentabilidade: assumir a liderança em sustentabilidade como fonte de vantagem competitiva (e.g., atrair investidores diferenciados, elevar o valor da marca) e endereçar pressões externas têm o mesmo peso relativo.
Curiosamente, cerca de 70% das empresas do setor refere existir resistência dos investidores ou acionistas sobre a estratégia de transição sustentável, nomeadamente questionando o retorno a longo prazo do investimento, ou a vantagem de ser first mover neste contexto.
MIGUEL CARDOSO PINTO
Partner, EY – Parthenon Leader
MIGUEL POEIRA
Manager, EY – Parthenon
Salvo caso os CEOs estivessem numa atitude de passiva e de conforto, à espera deste momento para somente agora apostarem em tecnologia como forma de sustentar a margem. Penso que a questão da sustentabilidade não será resolvida com esta abordagem (nada inovadora), dado que as empresas competitivas têm vindo de forma continuada e intensa a investir em tecnologia e redefinição dos seus processos visando aumentar a sua produtividade. A verdade é que circunstâncias especiais implicam medidas extraordinárias e por isso, é mais do que normal que os empresários estejam a evoluir/repensar nas suas opções estratégicas e opções de desenvolvimento, visando garantir a sustentabilidade dos seus negócios e simultaneamente identificarem oportunidades para cada vez mais diversificarem o seu portfolio de produtos e atividades.