Estamos no limiar de uma evolução no transporte rodoviário que irá impactar o ambiente e a forma como vivemos. A crescente adoção de veículos elétricos irá trazer, para além dos benefícios sociais, ambientais e económicos, desafios ao nível das infraestruturas e da experiência do cliente, que irão necessitar de uma forte colaboração entre setores. O atual momento é propício para as empresas de utilities desenvolverem soluções inovadoras e capazes de facilitar a jornada global para a transição energética.
A tendência da eletrificação traz oportunidades promissoras para estas empresas na cadeia de valor da mobilidade elétrica. Fornecer soluções de gestão de carregamentos e oferecer serviços de mobilidade partilhada são dois caminhos com bastante potencial.
Com o crescente número de veículos elétricos em circulação a nível mundial, a aposta nos carregadores elétricos tem-se tornado cada vez mais necessária. Só na Europa, no início de 2022, existiam cerca de 500 mil carregadores, sendo que está projetado um crescimento de +60% no número de estações de carregamento elétrico de acesso público até 2025, chegando aos cerca de 3 milhões até 2030. De entre as diferentes tipologias de infraestruturas de carregamento, espera-se que o segmento residencial represente a maior porção de carregadores existentes no mercado europeu em 2035, com cerca de 80%.
A prestação de serviços de instalação de carregadores residenciais, o fornecimento de aplicações de gestão de carregamentos e de programas de fidelização: estas iniciativas podem permitir às utilities reforçar os seus ecossistemas de mobilidade elétrica. Neste sentido, alguns players, em Portugal, oferecem a possibilidade de comprar e instalar carregadores através do seu website, e também soluções de gestão de carregamentos através de uma aplicação, muitas vezes incluindo um cartão de desconto para utilização na rede pública de carregamento.
A mobilidade elétrica representa uma oportunidade para [as utilities] desenvolverem os seus ecossistemas em torno do cliente final
Fora de Portugal, players comparáveis têm vindo a incorporar, no seu modelo de negócio, a oferta de serviços de mobilidade partilhada – um serviço que se encontra menos desenvolvido em Portugal face a outros mercados europeus. Em Espanha, a Acciona introduziu um projeto de mobilidade partilhada em 2018, que consiste na oferta de e-mopeds e scooters elétricas, tendo já uma frota de mais de seis mil equipamentos. Em Basileia, Suíça, a Primeo Energie lançou o projeto Pick-e-bike, uma aplicação de aluguer de veículos elétricos que conta já com cerca de 30 mil utilizadores ativos.
A mobilidade elétrica representa uma oportunidade para diversos operadores de mercado desenvolverem os seus ecossistemas em torno do cliente final, com vantagens naturais em termos da atração de novos clientes e fidelização da base atual. Neste contexto, as utilities estão bem posicionadas para construir este ecossistema, dada a ligação que já possuem com os consumidores através dos contratos de fornecimento de energia. Por outro lado, enfrentam forte concorrência por parte dos retalhistas e das marcas automóveis, que alavancam a sua oferta de venda e instalação de equipamentos de carregamento e veículos, respetivamente.
MIGUEL CARDOSO PINTO
EY-Parthenon Leader
MIGUEL POEIRA
Manager, EY-Parthenon