Logo após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de fevereiro, que Portugal condenou, aliás como boa parte do mundo, fomos ver da importância destes países no comércio bilateral com o nosso, e concluímos que, do ponto de vista macro, não seria muito relevante, como mostram os números que apresentamos no quadro seguinte:
Comércio externo PT | € p. correntes (10³) ano 2021 | % |
IMP PT Mundo | 82 385 158,00 | |
IMP PT da Rússia | 1 063 964,00 | 1,29% |
IMP PT da Ucrânia | 296 543,00 | 0,36% |
EXP PT Mundo | 63 452 828,00 | |
EXP PT para Rússia | 178 284,00 | 0,28% |
EXP PT para a Ucrânia | 35 852,00 | 0,06% |
Fonte: OMC. Nota: As importações PT da Rússia mais que duplicaram em relação a 2020
Por se saber da importância destes dois países no ranking das exportações mundiais de algumas matérias-primas com forte impacto na fabricação de outros produtos como é o caso dos combustíveis, elaboramos o quadro seguinte que nos diz coisas tão simples como:
Países | Produtos | Ranking das Exp Mundiais | % das exp Mundiais | % das IMP PT |
RUSSIA | Fertilizantes | 1 | 13% | 4,40% |
Níquel e suas obras | 1 | 12,9% | 0,30% | |
Óleos minerais | 3 | 9,5% | 4,70% | |
Cereais | 3 | 7,8% | 0,00% | |
Ferro e aço | 5 | 4,9% | 2,50% | |
UCRÂNIA | Cereais | 2 | 7,9% | 15,80% |
Ferro e aço | 15 | 2,3% | 2,20% | |
Gorduras e óleos animais ou vegetais | 3 | 5,3% | 1,70% | |
Sementes oleaginosas e frutos oleaginosos | 9 | 1,7% | 1,20% |
Fonte OMC. Dados de 2020.
Em 2020, ainda que a Rússia fosse o maior exportador mundial de fertilizantes e níquel, o terceiro em óleos minerais e cereais, e o quinto em ferro e aço, a nossa maior dependência estava nos óleos minerais, logo seguida dos fertilizantes, ainda assim em percentagens que nos parecem “fáceis” de substituir!
No que tem que ver com importações da Ucrânia, temos aqui uma dependência significativa – 15,8% – em relação aos cereais de difícil resolução. É o segundo maior exportador mundial, onde a guerra terá enorme impacto, não apenas na dificuldade de exportação, face às limitações de acessos ao mar, mas também pela previsível redução da produção, que provocará a escassez do produto em muitas partes do mundo.
Em qualquer das situações, já se sabe que não bastará encontrar novos mercados. Os preços, que já estavam a subir por causa da pandemia, continuam a subir… por via da especulação, também.
Na exportação
- No ano transato as exportações portuguesas para a Rússia e Ucrânia representaram apenas 0,28% e 0,06%, respetivamente, e ainda que tenham uma quebra acentuada como veremos abaixo, o impacto nas exportações portuguesas não é relevante, ainda que possamos admitir que numa perspetiva micro possa afetar, por exemplo, as empresas do calçado e da cortiça.
Vamos a caminho dos 90 dias de guerra! E que nos mostram os números do comércio bilateral?… Já se fazem sentir os efeitos da guerra, como era espectável.
IMP PT da Ucrânia | IMP PT da Rússia | |||||
2021 | 2022 | 2021 | 2022 | |||
Meses | ∆ 20_21 | ∆ 21_22 | Meses | ∆ 20_21 | ∆ 21_22 | |
Jan | -3,1% | 13,7% | Jan | -18% | 56% | |
Fev | 102,3% | -41,2% | Fev. | 23% | 112% | |
Mar | 47,9% | -72,0% | Mar | 269% | 160% | |
Abr | -37,5% | -57,3% | Abr. | 53% | -76% | |
Média do quadrimestre | 28,0% | -38,2% | Média do quadrimestre | 32% | 59% |
As importações PT da Ucrânia têm uma quebra de 38,2% nos primeiros quatro meses do ano e as da Rússia ainda que tenham caído 76% em abril, ainda assim cresceram no mesmo período temporal 59% em relação ao ano de 2021 (…!). O petróleo é o grande responsável.
Vamos a caminho dos 90 dias de guerra! E que nos mostram os números do comércio bilateral?… Já se fazem sentir os efeitos da guerra, como era espectável.
Para o mesmo período temporal a exportação para a Rússia cai de forma acentuada em março e abril, como mostra e gráfico seguinte.
Quanto à Ucrânia, as exportações portuguesas têm uma queda brusca em março, e curiosamente voltam a crescer em abril!
Perspetivas económicas…não são boas e quem o diz é o FMI
A guerra na Ucrânia acelerará a inflação, que agora esperamos permanecer elevada por mais tempo do que o previsto anteriormente sobre custos mais altos de commodities e pressões mais amplas de preços.
E a projeção de crescimento do PIB na Europa será até, provavelmente, otimista.
Perspetivas do fim próximo da guerra, também não são boas….
O Prof. Dr. Rolf J. Langhammer, especialista do ifw-Kie (Institute for de world economy) faz uma abordagem muito interessante, e ao mesmo tempo preocupante, para quem, como nós, considerava que a economia russa teria dificuldades em aguentar uma guerra longa, tendo em conta as fortes sanções económicas que lhe foram impostas.
Na perspetiva deste especialista, a economia russa conseguiu nos últimos anos uma situação fiscal estável: com uma dívida pública considerada baixa (20% do PIB); uma dependência cada vez menor do dólar; o aumento das suas exportações provocado pelo aumento do preço do petróleo e do gás, de quem a Europa não se consegue libertar com facilidade.
Refere ainda este especialista que estruturalmente a Rússia é ajudada pela baixa importância do setor de serviços privados e do alto emprego público protegido pelo Estado. Fatores que o poder político russo utilizará para manter a estabilidade para além de um tempo que no Ocidente não seria normal… Outras cabeças.
E nós acrescentaríamos ainda que a China está cá para ganhar… [a título de exemplo: as suas compras de combustíveis fósseis são superiores às exportações russas deste produto]
Uma boa noticia…
O comércio internacional já terá absorvido (!) os efeitos da guerra e estabilizou em abril…. Veremos!
ANTÓNIO PINTO RIBEIRO
JPAB_APR (consultor)