No webinar da APAT, de 18 de março (ontem), fez-se história: a JUL – Janela Única Logística, a Plataforma Digital promovida pelo Estado Português, passou a ter uma concorrente Privada, a TradeLens.
A Yilport Leixões, numa apresentação feita pelo seu Diretor Geral, Dr. Nuno David, tornou pública e efetiva a TradeLens, uma Plataforma Digital onde a Yilport está integrada, partilhando-a com outros relevantes Atores da Cadeia Logística.
Em artigo de opinião recente, escrito para o T&N, já tínhamos dado nota que os Portos Portugueses do Continente (PPC) teriam, no futuro, que lidar com estas duas Plataformas a que, em breve, se juntará uma terceira, de iniciativa europeia, a Alice.
Em Portugal, a TradeLens foi anunciada pela Yilport Leixões, a Concessionária do Terminal de Contentores de Leixões, e, coincidência ou não, no único porto onde a JUL ainda não chegou, pasme-se, pois será o último dos portos portugueses onde vai chegar, não obstante, em 2017, ter sido calendarizado o seu arranque, simultaneamente, com o porto de Sines, embora cada um com a sua especificidade de conexão por Terra, a ferrovia em Sines e a Rodovia em Leixões.
A Logística de Portugal, onde se incluem os PPC, passa, assim, a dispor de duas Plataformas Digitais, uma Pública e outra Privada, o que é bom para começar mas podendo não o ser tanto ao acabar. Voltaremos a este tema em outro momento.
A JUL, sendo Pública, beneficia da neutralidade do Estado, o que é uma vantagem enorme em matéria de confiança na Plataforma por parte dos Atores Logísticos.
A TradeLens, sendo Privada, beneficia, de forma mais eficaz, do comprometimento dos seus Membros, o que é uma vantagem enorme em matéria de liderança da Plataforma e, bem assim, do rigor no planeamento da sua implementação.
Neste campo, da liderança, a Maersk /IBM lidera a TradeLens (ou liderou no arranque) enquanto que, em Portugal, numa solução orgânica esdrúxula, é a APP – Associação dos Portos de Portugal com o apoio técnico da DGRM-Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, quem lidera a JUL.
A APP é um Clube de Reflexão das Autoridades Portuárias, e a DGRM, pertencendo ao Ministério do Mar, está desenquadrada do Ministério que tutela os Transportes, o Ministério das Infraestruturas e da Habitação.
As duas Plataformas incluem nos seus objetivos a Digitalização dos Portos, mas enquanto a JUL parece focada numa perspetiva de Serviço Portuário, a TradeLens está focada no Negócio Portuário.
Mas as diferenças entre as duas Plataformas estendem-se à sua abordagem estratégica, onde a JUL privilegia o Mar e o Setor Marítimo-Portuário, enquanto que a TradeLens valoriza, ao mesmo tempo, o Mar e a Terra, numa abordagem inclusiva da Logística Portuária, onde o enquadramento dos portos é o Setor Portuário (Nó entre a Terra e o Mar) e não o Setor Marítimo-Portuário, realçando o Mar.
A JUL constrói-se no Mar e progride para Terra com a ambição generosa de, um dia, vir a preencher toda a Cadeia Logística, em que os portos integram a solução digital de transporte marítimo.
A TradeLens, de forma inclusiva, aborda a Cadeia Logística integrando, logo, os portos na solução digital de transporte entre o Mar e a Terra.
As duas Plataformas incluem nos seus objetivos a Digitalização dos Portos, mas enquanto a JUL parece focada numa perspetiva de Serviço Portuário, a TradeLens está focada no Negócio Portuário.
As duas Plataformas, em algum momento do tempo, irão disputar o espaço que nascerá da extensibilidade dos seus conteúdos e da latitude das suas interações na Cadeia Logística e, à parte questões de poder administrativo, ganhará aquela que for mais abrangente na esfera do Negócio.
Uma grande parte dos Agentes Económicos dificilmente terão envelope financeiro para habitar estas duas Plataformas Digitais, em simultâneo, pelo que, tendo em conta a importância do Negócio, suspeitamos saber em qual delas vão habitar!
Por último, e sem surpresa, assistimos a uma excelente divulgação da JUL pelo seu Coordenador, o Eng. José Simão.
Porém, nunca é de mais lembrar que
“O talento individual é importante, a todos os niveis da sociedade, mas necessita de um quadro institucional que o transforme numa força positiva” (pág. 58, Porque falham as Nações / Daron Acemoglu e James A. Robinson)
Na Tradelens, a IBM e as suas competências técnicas não nos impressionam!
Na JUL, o modelo de governance em que se exercem essas mesmas competências, causa-nos desconforto e natural preocupação!
PS:
The fact is, the rapid expansion of platforms across industries represents a tremendous opportunity for companies to grow. But it also can seriously threaten a company’s business—and in some cases, its very existence—if a company fails to effectively define its platform strategy. Whether a company “owns” a platform ecosystem or plugs into another’s, what matters is having a platform strategy and the business know-how to exploit it.
(Accenture)
Presidente
Comunidade Portuária de Leixões