O final do ano é propício para fazer balanços do ano velho e dar perspetivas para o novo ano. Curiosamente, vemos muita continuidade entre os dois.
Politicamente, o que se passará na Europa e no Mundo continuará volátil e de reduzida previsibilidade. Nada de novo, portanto. Desde a tomada de posse da nova Administração americana, às eleições alemãs e à instabilidade do governo francês, temos instabilidade e incerteza que sobra.
Do ponto de vista de defesa, a guerra na Ucrânia não tem fim à vista, sendo de prever o aumento dos orçamentos de defesa nos países mais avisados e geograficamente mais próximos da Rússia, de modo a acautelar meios de defesa, em termos materiais e humanos, civis e militares. O recente Relatório NIISNISTO sobre como preparar a Europa para um mundo mais perigoso é de leitura recomendada.
A evolução da situação na Síria permite alguma esperança no Médio Oriente, mas a história dos processos revolucionários ensina que apenas sabemos como começam, nunca como irão terminar .
De realçar em termos internacionais, o fim das negociações Mercosul / U.E., que abrirá portas para os exportadores europeus, assim se conclua com sucesso o processo de ratificação do tratado.
A questão que fica sem resposta é para que serve este esforço europeu para cortar emissões e limitar o aquecimento global, se não for acompanhado pela China e pelos EUA.
Mas no curto prazo, as perspetivas económicas para a U.E. não são as melhores.
Apesar da taxa de inflação controlada, a perda de competitividade da indústria europeia exige a tomada de medidas de emergência. O aumento da quota de mercado dos automóveis elétricos chineses é apenas a ponta do iceberg do que poderá acontecer à indústria europeia automóvel e de componentes até ao final da década. O Relatório Draghi é claro na identificação do caminho a seguir pelo governantes, políticos e empresários: inovação, investimento, segurança e descarbonização.
A descarbonização mantém-se como objetivo estratégico europeu, mas vai trazendo custos elevados no curto prazo e acrescidas dificuldades para as indústrias e consumidores.
Um exemplo é a aplicação das taxas pela emissão de CO2 aos navios que visitam os portos europeus, que não se aplicam noutros portos e países terceiros concorrentes. Esta perda de competitividade apenas se resolve com investimento em novos navios e tecnologias, mas vai demorar anos, senão décadas, a implementar.
Em Portugal, registamos com preocupação o cancelamento pela GALP do Projeto Aurora para a refinação de lítio em Setúbal, depois do seu parceiro NORTHVOLT ter entrado num processo de recuperação financeira após registar avultados prejuízos provocados pela falta de competitividade em relação aos concorrentes asiáticos. Este projeto estaria enquadrado no desenvolvimento em Portugal de novas indústrias, ditas sustentáveis, que iriam compensar as outras que entretanto fecharam, como é exemplo as centrais termoelétricas e a refinaria da GALP em Matosinhos. Resta saber se a fileira das novas indústrias de baterias ou de refinação de lítio na Europa não segue o mesmo caminho da fileira dos painéis fotovoltaicos.
O processo de transição energética continuará a representar custos adicionais aos agentes económicos e aos consumidores. A questão que fica sem resposta é para que serve este esforço europeu para cortar emissões e limitar o aquecimento global, se não for acompanhado pela China e pelos EUA.
Talvez por estas e outras razões, o nosso P.M. já tratou de fazer o aviso à navegação com o seu “não existem oásis“.
Ficamos avisados.