José Pires da Fonseca, o líder operacional da Thai Moçambique Logística, aposta numa solução “low cost” para garantir o escoamento para o exterior do carvão extraído no país.
“Se fosse comparar o nosso projecto com algumas companhias aéreas, diria que temos como objectivo essencial conseguir ser o ‘baixo custo’ da solução logística para a bacia de Moatize”, disse o director executivo do consórcio, numa conferência sobre o sector do carvão, em Maputo.
A solução poderá ser “low cost” mas não será, seguramente,”low quality”. Pelo contrário. O projecto tem como “objectivo transportar volume”, o que só poderá ser alcançado com “um corredor de altíssimo desempenho do ponto de vista técnico”, que possibilite que os custos de transporte “fiquem tendencialmente mais competitivos”, referiu o ex-líder da CP Carga e da Takargo.
Com os estudos de viabilidade, de impacto ambiental e social ainda em execução, José Pires da Fonseca entende que o momento não é oportuno para a divulgação de informações sobre o traçado do projecto mas, atendendo a dados divulgados pelo governo na altura do lançamento da concessão, é previsível que a linha ferroviária tenha uma extensão entre 500 a 600 quilómetros.
“Vamos procurar o percurso mais curto entre a bacia de Moatize e um porto de águas profundas”, garantiu, adiantando que a ferrovia será comparável “a qualquer operação internacional, como da Austrália, Brasil e outros países concorrentes de Moçambique” no mercado do carvão.
Mas, para tal, a linha ferroviária terá de garantir uma capacidade de transporte acima de 20 milhões de toneladas, com uma “bitola internacional que permita a circulação de comboios de 32 toneladas por eixo”, o que, em termos de carga, poderá significar, “numa primeira fase”, 25 milhões de toneladas por ano.
“Daí até às 50 milhões de toneladas a diferença é muito pequena”, garantiu Pires da Fonseca, indicando que o “projecto logístico terá de estar ajustado aos preços dos produtos de baixa qualidade”, numa referência ao carvão térmico, menos valioso do que o metalúrgico.
O consórcio Thai Moçambique Logística é liderado pela empresa tailandesa Italthai Industrial Company Limited, com uma participação de 60%, e integra também a estatal Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), com 20%, e o grupo empresarial Corredor de Desenvolvimento da Zambézia (Codiza), também com 20%.
A concessão, outorgada vai para um ano, compreende a construção e exploração de uma linha ferroviária, a partir de Moatize, Tete, e de um porto de águas profundas na localidade de Macuse, Zambézia.
A nova concessão vai concorrer directamente com a histórica linha de Sena, que liga Tete ao porto da Beira, na província de Sofala, e com o Corredor de Nacala, que será brevemente inaugurado, ligando a região de Moatize ao porto de águas profundas de Nacala-a-Velha, na província de Nampula.
Explorada pela CFM e com 575 quilómetros, a linha de Sena é actualmente a única solução ferroviária de escoamento para o carvão de Moatize, embora com uma capacidade de carga muito abaixo das necessidades das mineiras que operam na região: cerca de 6,5 milhões de toneladas anuais.
Já o Corredor de Nacala, que se estende por 912 quilómetros e atravessa parte do território do Malawi, com uma capacidade de transporte de 18 milhões de toneladas por ano, é explorado pela brasileira Vale Moçambique (70%) e pelos CFM (30%).
José Pires da Fonseca assumiu há pouco a liderança executiva do consórcio tailandês-moçambicano, depois de ter sido responsável, durante cerca de um ano, pelos projectos logísticos da Rio Tinto em Moçambique.