Recentemente foi dada notícia sobre o desempenho dos portos portugueses em comparação com os portos espanhóis, dando ênfase, em título, de que os portos nacionais tinham tido um melhor desempenho no primeiro semestre de 2023.
Desempenho esse que apesar de negativo (redução de 0,9% em relação ao mesmo período do ano de 2022), é bem melhor que a quebra negativa de 3,8% do acumulado pelos portos espanhóis. Acrescenta o regulador AMT, a título de conclusão, que “estes números consolidam a inversão da tendência qualitativa desfavorável para os portos nacionais”.
Mesmo considerando a observação que é feita “à boca pequena”, notando que o movimento dos portos espanhóis, de 266,9 milhões de toneladas, é 6,2 vezes maior do que o dos portugueses, achamos lamentável que, como se diz, “se continue a tapar o sol com uma peneira” e não se encare a necessidade de uma grande reestruturação da política portuária nacional, coisa que há muito tempo defendemos e que a não ser feita nos continuará a remeter para estes pequenos contentamentos. E a este propósito, lembro-me de uma expressão popular em que se diz: “pobrete mas alegrete”. Isto é pobre, mas alegre.
O artigo em causa, que nos parece ser daqueles necessários para tapar notícias menos positivas ou a ausência delas, uma vez que está em causa a expetativa criada pelo Pacote Legislativo sobre a reestruturação do setor portuário, melhor o Novo Regime Jurídico do Setor Portuário, que tarda em sair, é tanto mais chocante quando, com ligeireza, nos pretende distrair do essencial. E o essencial é a urgência de se tomarem medidas, mesmo que essas possam ter como exemplo a política portuária em Espanha, cujos números falam por si nos últimos 30 anos.
…lamentável que, como se diz, “se continue a tapar o sol com uma peneira” e não se encare a necessidade de uma grande reestruturação da política portuária nacional, coisa que há muito tempo defendemos e que a não ser feita nos continuará a remeter para estes pequenos contentamentos.
Lendo a notícia se pode ter conhecimento da diferença que se regista entre um e outro país. Os portos espanhóis têm movimentado, no passado, cerca de sete vezes mais do que os portos portugueses, proporção que vai além da diferença da população e mesmo do PIB. E, na carga contentorizada, tão apetecida e apregoada, enquanto em Espanha se movimenta, anualmente, cerca de 17 milhões de TEU, em Portugal ficamos pelos cerca de 3 milhões de TEU. A que podemos acrescentar a tão falada e apetecida movimentação de GNL, em que continuamos a somar perdas nos últimos dois anos e em que Espanha detém quase mais dez vezes de capacidade de armazenamento.
Para além destas considerações, o que nos fica em subtítulo do tal artigo baseado em informação estatística da AMT, é que à cabeça dos principais portos portugueses, Sines e Leixões mostram sinais evidentes e preocupantes de recuo. E logo eles que têm trazido, nos últimos anos, algum ânimo na movimentação de mercadorias no todo nacional, principalmente na carga contentorizada. Por outro lado, de registar que o resultado agora alcançado fica abaixo dos registados em 2022 e 2021 e praticamente em linha com o registado em 2019. E não de somenos importância a perda que se regista no tráfego de hinterland de carga contentorizada no Porto de Sines (-32,4%).
Fica-nos também a sensação deste mal que nos continua a afligir e a ser mau presságio. Como quem tenta compensar o mal e o erro com o mal do vizinho, evidenciando ser pior o que se passa na casa do outro.
JOSÉ ANTÓNIO CONTRADANÇAS
Ex-administrador portuário/aposentado