Lertambém

Portos sustentáveis

Antes de ler este artigo, por favor olhe para os objetos à sua volta. Perca um minuto.

O portátil, o PC, o monitor ou telemóvel que está a usar para ler este artigo, as roupas que tem vestidas, o copo de sumo que pode estar a beber, os seus óculos, a mobília, as tintas das paredes, o ar condicionado, os quadros, o material de construção do edifício onde se encontra.

Quase todos esses itens chegaram provavelmente à sua casa ou trabalho, na totalidade ou em parte, por navio. Seja através de contentor, ou pelo transporte das matérias-primas a granel, que são utilizadas para criar produtos.

A borracha, a madeira, o cimento, o ferro, o plástico, a fruta, o papel, os componentes eletrónicos, os tecidos, os pigmentos, os alimentos, a carne e o peixe.

O transporte marítimo é responsável pela maior parte do comércio mundial, participando sempre em pelo menos um dos seus componentes. E a jornada que esses navios fazem é marcada por inúmeras escalas em portos em todo o mundo.

Pode achar feio, eu acho lindo, mas você certamente usa e abusa dos benefícios do transporte marítimo, dos seus preços baixos, da sua diversidade e qualidade. 

Este modo de transporte evoluiu de forma muito competitiva para trazer bem-estar económico e social, qualidade de vida e bens de primeira e segunda necessidade as todas as populações do mundo a preços muito baixos. Ninguém passa sem o transporte marítimo, embora a maioria não o saiba.

“Como os portos são pontos críticos de conexão onde a carga é transferida entre navios, comboios e camiões, os portos podem e devem liderar a política de sustentabilidade e influenciar todos os elementos da cadeia de abastecimentos global”.

Pode pensar nos portos como algo do passado, mas o sucesso da economia global de hoje, o seu sucesso e o seu dia-a-dia, significa que confiamos nos navios e nos portos mais do que nunca, para obtermos mercadorias e bens que consideramos de primeira necessidade e um direito adquirido.

Esta crescente dependência de produtos internacionais ajudou a tornar o transporte a causa que mais cresce nas emissões de gases de efeito estufa. Prevê-se que as emissões dos navios aumentem entre 50% e 250% até 2050. E que a expansão dos portos atinja um crescimento igual para áreas hoje ainda virgens e naturais, com maiores obras de acessos e impactos no tráfego no hinterland.

Como os portos são pontos críticos de conexão onde a carga é transferida entre navios, comboios e camiões, os portos podem e devem liderar a política de sustentabilidade e influenciar todos os elementos da cadeia de abastecimentos global.

We can
Sustainability

Mas o que é um porto sustentável?
O meu é mais sustentável que o teu?

É neste aspeto que os dados, informações e estatísticas desempenham um papel necessário primordial. É muito importante definir os Indicadores de Sustentabilidade Ambiental, sem os quais os portos não sabem se estão a ir na direção certa e a influenciar bem as cadeias de abastecimento.

A nível mundial, os navios de transporte e de pesca contribuem com uma quantidade significativa de resíduos para o oceano. Além do lixo sólido, os navios descarregam redes velhas de pesca, águas de esgoto, resíduos oleosos e produtos químicos, que podem prejudicar os ecossistemas.

Os portos devem oferecer instalações de tratamento de resíduos para lixo, esgoto, resíduos oleosos, produtos químicos e água de lastro. Estes custos são incomportáveis apenas pelos portos e devem ser comparticipados pelas cidades e países, que têm de adaptar os seus sistemas para receber estes resíduos de forma gratuita, incentivando o uso pelos navios, para defender o oceano.

Existem várias formas para os portos oferecerem alternativas mais limpas de energia aos navios em escala e reduzirem a pegada de carbono e as emissões dos navios. 

Devido à sua grande capacidade, os navios são, em última análise, o método de transporte de carga mais económico em termos de combustível e amigo do ambiente por tonelada-quilómetro. Mas as grandes e crescentes quantidades de cargas e navios implicam muito mais combustível, que polui o ar e contribui para o efeito de estufa. Todos nós, com o nosso estilo de consumo de produtos importados ou com componentes importados, mesmo sem o sabermos, contribuímos para esta poluição.

A maioria dos navios opta por usar o combustível mais barato disponível, que também é o mais sujo, exceto quando as regiões obrigam a reduzir as emissões. Eles costumam usar combustível de bancas mais sujo, que sobra nos processos de produção de gasolina e gasóleo. Esse combustível sujo é carregado com partículas e seus poluentes associados, como NOx e PM2.5, que trazem graves problemas respiratórios e chuvas ácidas.

Os combustíveis mais limpos são obrigatórios apenas em áreas de controle de emissões estabelecidas nos últimos 20 anos na América do Norte, Caraíbas, Mar do Norte e Mar Báltico. 

Os navios acostados nos portos podem levar a que a concentração das suas emissões possa prejudicar a saúde humana e os ecossistemas. Mesmo parados em porto, utilizam os motores auxiliares para produzir energia para aquecimento, refrigeração, ventilação, guindastes e outras funções. 

Ao oferecer alternativas de energia limpa, os portos podem ser catalisadores da defesa das variáveis ambientais e proteger suas comunidades portuárias próximas. Uma dessas alternativas é o fornecimento de energia onshore, que permite que os navios se conectem efetivamente a uma rede elétrica terrestre enquanto estiverem nos portos. Ao fazer isso, os navios podem usar energia elétrica, que pode ser obtida de fontes renováveis ou limpas. Estas melhorias implicam grandes investimentos na produção e na rede energética dos países, das cidades e dos portos, para os quais os Estados e as Cidades devem contribuir, por serem os principais beneficiados.

Os portos também podem gerir as informações de congestionamento nos cais com os navios, o que pode permitir operar em velocidade lenta, garantindo o seu lugar na fila de espera para o cais, reduzindo a poluição. Simplesmente diminuindo a velocidade, os navios podem reduzir a quantidade total de combustível que normalmente usariam durante a viagem, economizando dinheiro e reduzindo a sua pegada de carbono. 

Os portos podem ainda influenciar a mudança dos combustíveis dos navios para o GNL, colocando à disposição facilidades de abastecimento, mesmo que subsidiadas, sem as quais a mudança para a utilização de combustíveis menos poluentes por embarcações de transporte de passageiros e por pequenas embarcações turísticas ou de transporte de curta distância, não é possível.

Existem muito outros indicadores e ações que podem ser desenvolvidas nas fase de planeamento, construção, operação, ligação ao hinterland, ligação com as cidades, ligação com os parceiros e partes interessadas.

Finalmente, seria muito importante existirem, a nível mundial, rankings de sustentabilidade dos portos, permitindo às companhias de navegação responsáveis optar pelos portos mais sustentáveis e mostrar essa bandeira verde da utilização exclusiva de portos sustentáveis às suas cadeias logísticas e aos consumidores. 

Não podemos definir, defender e avaliar com precisão as metas de sustentabilidade sem utilizar dados para nos ajudar ao longo do caminho. E não podemos progredir em direção a essas metas sem tornar esses dados públicos.

Referências
  • https://sustainableworldports.org/project/portopia-project/
  • https://blogs.ei.columbia.edu/2019/09/17/port-sustainability-index/
  • https://www.portofrotterdam.com/en/our-port/our-themes/a-sustainable-port/sustainability
  • https://www.portstrategy.com/news101/environment/taking-sustainability-to-the-next-level
  • http://www.imo.org/en/OurWork/Environment/PollutionPrevention/AirPollution/Pages/Emission-Control-Areas-(ECAs)-designated-under-regulation-13-of-MARPOL-Annex-VI-(NOx-emission-control).aspx
  • https://www.portvancouver.com/about-us/topics-of-interest/sustainability/
  • https://www.portofantwerp.com/en/sustainable-port-21st-century
  • https://www.porteconomics.eu/2020/05/09/world-ports-sustainability-report-2020-highlights-scientific-contribution-in-fostering-sustainability-efforts-of-ports-worldwide/
  • https://en.northseaport.com/sustainability


Vítor Caldeirinha

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