O conflito no Iémen, marcado principalmente pelos ataques incisivos dos rebeldes Houthi, tem desencadeado repercussões profundas no comércio marítimo internacional.
Estes ataques, notavelmente intensificados e aparentemente apoiados pelo Irão, têm visado navios no Mar Vermelho, uma artéria comercial vital que liga o Oceano Atlântico ao Oceano Índico, passando pelo Mediterrâneo e pelo próprio Mar Vermelho. A consequência direta desses ataques tem sido uma perturbação significativa no fluxo do comércio global. Empresas de navegação e petróleo, em resposta à crescente insegurança, têm sido forçadas a suspender as suas operações numa das mais importantes rotas marítimas do mundo, o que tem originado um aumento nos preços do petróleo e do gás, além de exigir rotas alternativas, mais longas, ao redor da África, elevando assim os custos de seguro e transporte de forma significativa.
Esta situação tem, inevitavelmente, afetado a dinâmica do comércio marítimo global, repercutindo em várias esferas económicas e geopolíticas. Com efeito, o tráfego de navios no Mar Vermelho diminuiu 20% em dezembro de 2023, uma vez que as companhias de navegação suspenderam as suas operações ou mudaram as suas rotas para o Cabo da Boa Esperança.
Portugal, graças à sua localização estratégica ao longo da costa atlântica da Europa, encontra-se numa posição única para capitalizar as mudanças nas rotas de comércio marítimo. A necessidade de rotas alternativas seguras e eficientes abre um novo horizonte de oportunidades para o país, especialmente para portos como Sines.
Para se tornar uma alternativa competitiva aos tradicionais centros de comércio marítimo, como Amesterdão e Roterdão, Portugal precisaria, a médio e longo prazo, de um investimento substancial na expansão e modernização das suas infraestruturas portuárias. O porto de Sines, em particular, deve ser o foco, com aprimoramentos na capacidade de carga e descarga, melhorias na logística interna e conexões de transporte eficientes para facilitar a distribuição de mercadorias por toda a Europa.
A realidade atual, marcada pelo conflito no Iémen e os desafios subsequentes nos corredores marítimos globais, não é apenas uma fonte de preocupação, mas também uma janela de oportunidades para Portugal.
Todavia, e pensando em estratégias a curto prazo, Portugal pode implementar várias medidas para atrair mais negócios para os seus portos. A redução de taxas, a oferta de incentivos fiscais a empresas que escolham portos portugueses para as suas operações logísticas, e a formação de parcerias para modernização dos portos são passos importantes. Além disso, e de forma imediata, campanhas de marketing promovendo os portos portugueses como rotas alternativas seguras e eficientes, juntamente com a simplificação de processos burocráticos para acelerar operações portuárias, podem aumentar significativamente o apelo de Portugal no cenário marítimo global.
A realidade atual, marcada pelo conflito no Iémen e os desafios subsequentes nos corredores marítimos globais, não é apenas uma fonte de preocupação, mas também uma janela de oportunidades para Portugal. A situação desencadeada pelos ataques dos rebeldes Houthi serve como um catalisador para repensar as rotas marítimas tradicionais, colocando Portugal numa posição favorável para oferecer alternativas viáveis.
Olhando para o futuro, o desenvolvimento sustentável dos portos portugueses, especialmente em Lisboa e Sines, será crucial. Integrar operações portuárias com considerações ambientais e urbanas pode não apenas reforçar a posição de Portugal, mas também estabelecer um novo padrão para o comércio marítimo. Adicionalmente, focar na segurança e estabilidade será essencial, especialmente num contexto de incerteza geopolítica.
A longo prazo, com estratégias e investimentos bem direcionados, Portugal tem o potencial de se tornar um ponto de trânsito chave para o comércio marítimo entre a Europa, América e África. Isto requer não apenas investimentos em infraestrutura, mas também uma abordagem estratégica que inclua políticas governamentais de apoio, marketing estratégico e parcerias globais.
Num momento de mudança nas rotas marítimas globais, Portugal tem a oportunidade de emergir como um oásis de portos seguros e eficientes. Investimentos estratégicos, relações sólidas e uma visão voltada para a segurança e sustentabilidade podem reposicionar Portugal como um protagonista no tabuleiro do comércio marítimo global. Aproveitar as mudanças causadas pelos conflitos envolvendo os Houthis e outros fatores geopolíticos pode, portanto, ser uma manobra estratégica para o país, beneficiando não apenas o setor marítimo, mas também a economia portuguesa como um todo.
Pós-graduada em “Maritime Law”, com especialização em “‘Oil and Chemical Pollution”, pela London Metropolitan University
Terei entendido bem? o que tem a situação geográfica de Portugal a ver como facto de navios seguirem a rota do Cabo (circundando o continente africano) como já aconteceu durante anos quando o canal do Suez esteve encerrado devido a uma das guerras israelo-árabes)? e a “competividade” dos portos portugueses versus Roterdão, Antuérpia, etc terá algo ou muito a ver com o que está novamente a acontecer? a questão é outra, no meu entender, mas a “coversa” seria longa e talvez não apropriada para um simples comentário.