Pela sua localização entre a Europa e a América, Portugal poderá funcionar como um hub para o reshoring da indústria, sustenta a JLL
As empresas europeias procuram na região EMEA uma alternativa à produção e abastecimento na Ucrânia e na Ásia, após meses de interrupção da cadeia de abastecimento, concluiu o relatório “Supply Chain Disruptions”, promovido pela JLL.
O mesmo estudo revela que são várias as empresas que operam nos sectores do retalho e manucfatura que já
decidiram realocar parte ou totalidade da sua produção. Os dados internos da JLL mostram que os novos
beneficiários europeus do “reshoring” são a Europa Central e a Roménia, à medida que as fronteiras europeias
da Turquia e Marrocos estão também no radar.
Esta tendência surge no seguimento da pandemia, que provocou uma quebra nas redes de distribuição e um
grave estrangulamento nos portos e aeroportos, pelo que as empresas começaram a optar pelo “reshoring”
como tentativa de solução para fazer face às interrupções nas cadeias de abastecimento.
A JLL antecipa ainda que a escassez de terrenos e de mão-de-obra contribuirão para o aumento da procura na Europa Central, do mercado primário até ao secundário e terciário, estes estrategicamente localizados.
Dados do Flexport mostram que uma viagem média de contentores da Ásia para a Europa quase duplicou
desde 2019, enquanto a investigação da Buck Consultants International (BCI) confirma o mesmo que a JLL:
mais de 60% das empresas americanas e europeias estão a planear alocar parte da sua produção de volta ao
seu país de origem.
Considerando as redes de transporte actuais e os gateways logísticos, pode-se dizer que as mercadorias
circularão, sobretudo, ao longo de dois corredores de distribuição: a tradicional Dorsal Europeia (do centro de
Inglaterra ao norte de Itália) e a emergente “Black Sea Banana”, que liga Budapeste ao Mar Negro.
Marlene Tavares, Head of Retail & Logistics Investment da JLL, explica que: “A discussão sobre o
nearshoring não é recente. O aumento dos salários em localizações de produção de baixo custo e o crescente
risco devido às alterações climáticas, greves e acidentes, como o bloqueio do Canal do Suez, alimentaram o
debate sobre esta questão na última década. Contudo, uma relação custo/risco mais favorável e o facto de se
terem perdido muitas infra-estruturas de produção na Europa, continuaram a garantir ao continente asiático a
vantagem para a localização dos grandes hubs de distribuição e produção de uma vasta gama de produtos.
Este cenário está agora a mudar, devido à recente conjuntura e também pelos novos hábitos de consumo.
“Neste contexto Portugal apresenta vantagens competitivas, ligadas ao seu posicionamento geográfico e
demografia muito aliciantes que nos colocam numa posição de destaque na estratégia europeia de
nearshoring”.
Mariana Rosa, Head of Leasing Markets Advisory da JLL, comenta: “Naturalmente, dois anos de uma
pandemia global, seguidos do conflito Rússia-Ucrânia, têm consequências. Com toda a interrupção de
abastecimento que estas duas situações causaram, as empresas perceberam que precisam de diversificar a
produção para manter bons níveis de stock nos mercados europeus. Além disso, este estudo mostra que o cenário actual continua a ser de perturbações na cadeia de abastecimento e que esta é uma tendência que se
manterá”.
Na perspectiva das responsáveis, respectivamente, pelas áreas de ocupação e investimento em Industrial &
Logística em Portugal, as alterações nas estratégias das empresas no que respeita a relocalização dos seus
hubs de produção e distribuição para mais perto do consumidor europeu, podem beneficiar o mercado
português, que dispõe de um posicionamento geográfico estratégico na ligação entre o continente europeu e
o continente americano. O imobiliário deste segmento poderá ser alvo de um forte aumento de procura para
ocupação e investimento.