A concessionária do terminal de contentores de Sines é a primeira a assumir publicamente, e na prática, as suas reservas à intenção do Governo de rever o modelo de governação dos portos.
“Enquanto a PSA Sines não entender claramente o alcance da reorganização que o Governo vai efectuar no sector dos portos, suspende o investimento na próxima fase do Terminal XXI”, disse ao “Expresso” Jorge d’Almeida, até há pouco administrador-delegado da PSA Sines e agora assessor da administração da concessionária.
Em causa está a última fase de expansão do terminal de contentores, que elevará a sua capacidade de um milhão para cerca de 1,4 milhões de TEU/ano, e que implica o prolongamento do cais, dos actuais 730 metros para os 940 metros.
Até aqui, a PSA Sines tem antecipado os prazos de ampliação do terminal, animada pelo crescimento da actividade e apoiada também nos investimentos feitos pela administração portuária.
Desde sempre, o Terminal XXI tem sido um caso à parte no contexto nacional, pelo tipo de concessão que lhe esteve na origem, mas também pelo facto de Sines ser – também ele – um porto à parte. Acresce que o de Sines é o único terminal de contentores nacional que não é controlado, directa ou indirectamente, pela Mota-Engil.
Esta singularidade poderá ser posta em causa assim avance a falada fusão dos portos de Lisboa, Setúbal e Sines numa só administração portuária. E é isso que preocupará os responsáveis da PSA portuguesa, receosa da hegemonia de Lisboa e dos seus operadores.
A declaração de Jorge d’Almeida acontece um mês depois de, em Singapura, o presidente da PSA ter garantido a Cavaco Silva e à sua comitiva o empenho em continuar a investir em Portugal.
Na verdade, a suspensão do investimento na expansão do Terminal XXI poderá ter poucos efeitos práticos no dia-a-dia de Sines. Desde logo, porque o terminal tem ainda capacidade instalada bastante, mas também porque a indefinição sobre o modelo de governação não deverá demorar muito mais, e ainda porque a concessionaria não arriscará perder negócio por falta de capacidade de resposta.
Nos primeiros quatro meses do ano, o Terminal XXI movimentou cerca de 175 mil TEU, o que representou um crescimento homólogo de perto de 17%. Para o final do exercício, Lídia Sequeira, presidente do Porto de Sines, prevê um movimento de 600 mil TEU, que deverá subir até ao milhão de TEU num horizonte de três anos.