“Mais uma moedinha, mais uma voltinha”. Todos os anos o setor depara-se com os complexos ajustes das suas operações de final/início de ano. Apesar do planeamento antecipado por que os grandes grandes retalhistas são conhecidos, os desafios logísticos nesta altura do ano afetam inevitavelmente toda a cadeia de abastecimento (camiões, contentores, etc.).
A dependência europeia dos mercados asiáticos mantém-se evidente, especialmente em setores estratégicos como tecnologia, têxteis, produtos agroalimentares e matérias-primas. Esta realidade torna inevitável a disrupção das cadeias logísticas entre janeiro e abril, seja pelo encerramento industrial europeu, pelas festividades chinesas ou pelas condições meteorológicas adversas que afetam o transporte marítimo.
O conceito de nearshoring foi amplamente discutido após a pandemia e o bloqueio do Canal de Suez, mas, na prática, poucas empresas tomaram medidas concretas para aproximar a produção dos seus mercados. A indústria da moda foi uma das poucas exceções, apostando em fornecedores mais próximos para segmentos específicos.
Para enfrentar estes desafios, é fundamental repensar os modelos de produção e consumo. Alternativas como o fortalecimento das cadeias de produção próximas, a diversificação dos meios de transporte e o investimento em tecnologia para otimização logística podem contribuir para uma maior resiliência. O “desenrasque” Português persiste em ser um trunfo, mas não pode substituir uma estratégia sustentável e de longo prazo.
Há que colaborar ativamente com a Administração Pública em ações relacionadas com a logística por forma a desenvolver medidas a favor da logística nacional.
A mudança nos aspectos produtivos é um processo bastante desafiante, mas a diversificação dos meios de transporte e o investimento em tecnologia têm grande potencial para impulsionar todos os agentes que estejam dispostos a evoluir para um mercado que se quer cada vez melhor conectado.
O foco Português deverá centrar-se na promoção e conhecimento sobre as infraestruturas existentes e na implementação de novas.
O desenvolvimento da logística ferroviária e a melhoria da eficiência e articulação entre diferentes modos de transporte é um objetivo importante, especialmente num contexto em que a intermodalidade, os portos secos e os integradores logísticos têm sido discutidos. No entanto, as soluções atuais não têm oferecido vantagens competitivas significativas em relação aos transportes tradicionais e convencionais em Portugal.
Há que colaborar ativamente com a Administração Pública em ações relacionadas com a logística por forma a desenvolver medidas que fomentem decisões no poder legislativo, a favor da causa da logística nacional.
Portugal tem o potencial, através da modernização das infraestruturas e de uma melhor conectividade dos seus portos (marítimos e secos). O investimento em tecnologia e soluções sustentáveis pode tornar o país mais competitivo e atrativo. Além disso, uma estratégia conjunta entre os governos de Portugal e Espanha, juntamente com a União Europeia, para o desenvolvimento de corredores logísticos e de transportes, apoiada por políticas públicas, pode consolidar a região como o maior hub logístico Ocidental, “configurando a Grande Plataforma Logística-Industrial Europeia”.
Para tal é necessária a vontade dos dois países para exigi-lo à UE, sendo naturalmente pouco credível querer exigir algo quando não estamos ligados internamente após anos de insistência da UE. Enquanto o foco de Portugal for a transferência de contentores de um navio para outro (Sines), haverá sempre concorrência feroz.
É preciso desenvolver uma rede logística interna, e isso faz-se com vontade, com perseverança, e com visão estratégica que não se limite a mandatos de 4 anos.
“Mais uma moedinha, mais uma voltinha.” Enquanto esta desconexão e falta de visão e de coragem existir, a Indústria Portuguesa paga, mas não anda.
Os investimentos e a economia baseiam-se mais nas expectativas, na credibilidade e na confiança no futuro. Já não basta ser popularmente conhecido como a porta de entrada da Europa, há que demonstrá-lo!