Num mundo pós-pandemia, marcado por conflitos geopolíticos, alterações climáticas e disrupções tecnológicas, a resiliência tornou-se um pilar estratégico da logística. A cadeia de abastecimento deixou de ser apenas um suporte operacional e é agora um ativo competitivo.
O que significa Resiliência na cadeia de abastecimento?
Resiliência é a capacidade de prever, resistir, adaptar-se e recuperar de disrupções. Envolve visibilidade, agilidade, colaboração e inovação.
Resiliência é diferente de Eficiência. Enquanto que a Eficiência se foca na redução de custos, stocks mínimos e fluxos otimizados, a Resiliência foca-se na continuidade do negócio, mesmo em cenários adversos. Uma cadeia eficiente pode ser frágil. Uma cadeia resiliente pode ser mais robusta, mesmo que ligeiramente menos eficiente em tempos normais.
Empresas resilientes respondem mais rápido a eventos inesperados, minimizam perdas financeiras e reputacionais, ganham confiança de clientes e parceiros, e aproveitam oportunidades quando os concorrentes ainda estão a reagir. “Ganha” quem estiver mais preparado para o inesperado! Antecipar, criar soluções e modelos alternativos é a chave.
A globalização criou cadeias de abastecimento longas e complexas. Uma falha num porto asiático pode afetar fábricas na Europa. Os riscos são inúmeros e podem chegar de todas as partes: pandemias, conflitos, catástrofes naturais, ciberataques e falhas tecnológicas. Soma-se a isso a pressão dos consumidores e reguladores, que esperam que as empresas sejam transparentes, responsáveis e ágeis.
Como construir uma cadeia de abastecimento resiliente?
1. Diversificação de Fornecedores e Localizações
- Evitar dependência excessiva de um único fornecedor ou região geográfica
- Desenvolver fontes alternativas em diferentes países ou continentes
- Avaliar fornecedores não apenas pelo custo, mas também pela capacidade de resposta a crises
2. Visibilidade e Monitorização em Tempo Real
- Investir em tecnologias de rastreamento (IoT, RFID, blockchain)
- Utilizar plataformas de visibilidade ponta-a-ponta para monitorar fluxos de materiais, inventário e transporte
- Criar dashboards de risco com alertas em tempo real
Investir em redes logísticas ágeis, tecnológicas e colaborativas é investir na capacidade de resistir, adaptar-se e prosperar num mundo em constante transformação.
3. Planeamento de Cenários e Simulações
- Realizar exercícios de simulação de crise
- Desenvolver planos de contingência com ações claras e responsabilidades definidas
- Avaliar o impacto financeiro e operacional de diferentes tipos de disrupção
4. Capacidade de Resposta Ágil
- Criar stocks de segurança para produtos críticos
- Estabelecer redes logísticas flexíveis com múltiplas rotas e modos de transporte
- Automatizar processos para reduzir o tempo de reação
5. Colaboração com Parceiros
- Estabelecer relações de confiança e partilha de dados com fornecedores, operadores logísticos e clientes
- Criar acordos de cooperação para resposta conjunta a eventos disruptivos
- Participar em plataformas colaborativas
6. Sustentabilidade como Pilar de Resiliência
- Integrar critérios ESG na seleção de fornecedores
- Reduzir a pegada de carbono e o consumo de recursos
- Promover práticas de economia circular e logística inversa
7. Cultura Organizacional e Capacitação
- Formar equipas em gestão de risco, análise de dados e resposta a crises
- Incentivar uma cultura de aprendizagem contínua e adaptação
- Criar equipas multidisciplinares com visão estratégica
Como podem a logística e os transportes suportar estes processos?
A logística e os transportes são os sistemas circulatórios da cadeia de abastecimento. São eles que asseguram o fluxo contínuo de matérias-primas, produtos e informação entre fornecedores, fabricantes, distribuidores e clientes. Quando bem estruturados, tornam-se instrumentos fundamentais de resiliência.
A flexibilidade operacional, através da reconfiguração de rotas, da utilização de soluções multimodais e a utilização de centros de distribuição.
O suporte de redes logísticas descentralizadas, com a criação de hubs regionais e centros de distribuição locais, reduz pontos de falha e permite respostas mais rápidas a variações de procura.
A tecnologia, com a utilização de sistemas de gestão de transportes e rastreamento em tempo real, permite a visibilidade na cadeia, para decisões rápidas e informadas.
Logística colaborativa aumenta a capacidade de resposta conjunta, através de parcerias estratégicas com transportadores e operadores logísticos.
A utilização de frotas Euro VI, permanentemente renovadas, com combustíveis alternativos como HVO, torna as cadeias sustentáveis e mais robustas perante pressões regulatórias.
A resiliência não é um custo, é um investimento estratégico. Num mundo incerto, a capacidade de adaptação é o que distingue os líderes dos seguidores. A logística e os transportes não são apenas executores da estratégia, são parte integrante da estratégia de resiliência. Investir em redes logísticas ágeis, tecnológicas e colaborativas é investir na capacidade de resistir, adaptar-se e prosperar num mundo em constante transformação.
“A resiliência começa no planeamento, mas concretiza-se na operação. E é na logística que essa operação ganha vida.”
ANDREIA ANTUNES
Direcção Business Development PT | Luís Simões Logística Integrada
Membro da Direcção da APLOG