O setor de cereais e oleaginosas desempenha um papel fundamental na economia portuguesa, uma vez que constitui a base da alimentação humana e animal. Portugal é altamente dependente das importações de cereais, visto que a produção nacional cobre apenas cerca de 20% do consumo interno. A logística portuária, incluindo os terminais operados pela Silopor, é essencial para garantir o abastecimento regular das indústrias agroalimentares, cervejeira e pecuária. Além disso, os cereais e oleaginosas são matérias-primas essenciais para a produção de óleos alimentares e biocombustíveis, o que reforça a necessidade de uma gestão eficiente da sua cadeia logística.
Principais produtores mundiais
1. Milho
Os três maiores produtores de milho, em 2024/25, produziram um total de mais de 1,21 mil milhões de toneladas, o equivalente a 85% da produção mundial. São eles:
Estados Unidos: Com 31% (377,6 milhões de toneladas) da produção mundial, são conhecidos como “cinturão do milho” ou “corn belt americano”. A dominância dos Estados Unidos na produção mundial de milho é um reflexo de sua avançada tecnologia agrícola, extensas áreas cultiváveis e condições climáticas propícias.
China: A China é o segundo maior produtor mundial de milho, tendo sido responsável por 24% da produção mundial em 2023/2024: 294.9, milhões de toneladas.
Brasil: Em 2024/25, o Brasil foi responsável pela produção de 126 milhões de toneladas de milho, o equivalente a 10% da produção mundial.
2. Trigo
Os três maiores produtores de trigo, uma das cadeias produtivas mais importantes do agronegócio mundial, produziram um total de 793,8 milhões de toneladas na safra 2024/25.
China: A China lidera a produção mundial de trigo com 137,0 milhões de toneladas produzidas em 2024/25, equivalentes a 18% do total produzido no mundo, sendo a maior parte para consumo interno.
União Europeia: Dentro da UE, a França é o maior produtor individual, seguida pela Alemanha e pela Polónia. A União Europeia produz 134,94 milhões de toneladas, equivalentes a 15% do total mundial. A produção de trigo na União Europeia é beneficiada principalmente por políticas agrícolas de promoção da sustentabilidade e eficiência.
Índia: A Índia ocupa a terceira posição entre os maiores produtores de trigo do mundo com uma produção de 110 milhões de toneladas, o que corresponde a 14% da produção mundial. A produção indiana é impulsionada por uma combinação de políticas de subsídio agrícola, tecnologias de irrigação e uma procura interna significativa, devido à grande população do país.
3. Soja
Os principais produtores de soja em 2024/25 colheram 97% do total dos 420,7 milhões de toneladas produzidas em 2024/25.
Brasil: É o maior produtor mundial de soja e colheu cerca de 169 milhões de toneladas em 2024/25, que corresponderam a 40% do total produzido a nível mundial.
Estados Unidos: Ocupam a segunda posição no ranking. Eem 2024/25 colheram 118,84 milhões de toneladas, que correspondem a 28% do total mundial.
Argentina: É a terceira maior produtora mundial de soja com 49 milhões de toneladas colhidas na safra 2024/25, correspondentes a 12% do total mundial.
Tipos de shipping e modalidades de transporte
Atualmente existem três modalidades diferentes de transporte de graneis sólidos: a utilização de bigbag, a utilização de contentores marítimos de graneis sólidos que posteriormente são carregados em navios porta-contentores e, por fim, a mais comum é a utilização de navios de graneis sólidos.
O transporte de carga em navios de graneis sólidos traz grandes dificuldades. Dentro destas, o ângulo de repouso que afeta a estabilidade do navio, a presença de seres vivos que podem consumir a carga, e a forma como é efetuado o próprio armazenamento, dentro ou fora do navio, que pode causar o apodrecimento ou perdas devido ao vento.
Rotas marítimas e principais países fornecedores
Os principais países exportadores de cereais são:
- América- o Brasil, a Argentina, os Estados Unidos e o Canadá;
- Europa – a Ucrânia
- Asia – India e a Rússia
- Oceânia – Austrália
As principais rotas são:
- América do Sul e América do Norte → Ásia e Europa
- Mar Negro → Oriente Médio e Ásia
- Austrália → Ásia
Principais setores consumidores (alimentação humana e animal)
O consumo de cereais e oleaginosas em Portugal é de extrema importância, tanto na alimentação humana quanto na alimentação animal, sendo elementos fundamentais na dieta e também componentes essenciais da indústria agroalimentar (têm um papel significativo na produção de rações animais e em diversos derivados industriais).
Na alimentação humana, os cereais e oleaginosas estão presentes numa ampla variedade de produtos consumidos diariamente pelos portugueses, sendo os mais consumidos em Portugal o trigo e o arroz.
Com o aumento das preocupações com a saúde e a alimentação mais saudável, o consumo de oleaginosas tem vindo a crescer, devido aos seus benefícios nutricionais, como as gorduras saudáveis e o conteúdo de proteínas e fibras.
No sector da alimentação animal, os cereais e oleaginosas são exaustivamente utilizados como componentes de rações para uma grande variedade de animais, desde gado até aves e suínos.
…com a privatização da Silopor e o incentivo a investimentos privados, surgem novas oportunidades para enfrentar esses desafios de forma mais eficaz. A modernização das infraestruturas da Trafaria e a melhoria das capacidades operacionais representam uma oportunidade única para fortalecer a cadeia de abastecimento de cereais, melhorar a competitividade do setor e garantir maior autonomia em relação às importações.
A soja, particularmente, é uma oleaginosa de grande importância para a produção de ração animal. O óleo de soja é também utilizado na indústria de rações.
Além disso, Portugal é um grande consumidor de rações compostas que incorporam tanto cereais quanto oleaginosas e a indústria da alimentação animal representa uma parte importante do mercado agroalimentar do país.
A dependência externa de cereais e oleaginosas é um componente importante da economia portuguesa e de outros países da União Europeia. Este fenómeno afeta diretamente a segurança alimentar, a competitividade da indústria agroalimentar e o desempenho económico do país. Portugal é altamente dependente da importação de cereais e oleaginosas para garantir o abastecimento em cereais como soja, milho, trigo, e oleaginosas como o girassol. Esses produtos são fundamentais tanto para a alimentação humana, como para a alimentação animal.
No contexto europeu, a União Europeia (UE) como um todo também é um grande importador de cereais e oleaginosas. Em particular, a soja e o milho representam uma fatia significativa das importações agrícolas da UE. A dependência da importação de soja, por exemplo, é um problema comum, uma vez que a produção interna não é suficiente para atender à crescente procura da indústria de rações animais. Colocando os países membros, incluindo Portugal, vulneráveis às flutuações dos preços globais.
Papel da indústria agroalimentar e do setor cervejeiro em Portugal
A indústria agroalimentar e o setor cervejeiro desempenham um papel crucial na economia portuguesa, sendo responsáveis por uma parte significativa da produção, emprego e exportações. A indústria agroalimentar representa uma parte significativa do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal e é responsável por uma parte importante das exportações do país. O setor gera milhões de euros em receitas anuais e participa na economia desde a agricultura até a indústria de transformação e distribuição.
A indústria agroalimentar portuguesa tem vindo a investir cada vez mais em inovação tecnológica, sustentabilidade e na promoção de produtos de qualidade superior. Isso inclui a certificação de produtos, a utilização de técnicas agrícolas sustentáveis e a adaptação às mudanças climáticas. A transição para práticas agrícolas mais verdes e eficientes tem sido fundamental para a manutenção da competitividade da indústria no mercado global.
O setor cervejeiro tem uma presença marcante na economia portuguesa, sendo um grande motor de emprego e inovação, estando entre os maiores responsáveis pela produção e distribuição de bebidas alcoólicas, com várias marcas nacionais reconhecidas e exportadas para diversos mercados internacionais: Brasil, Europa e mercados asiáticos.
O setor tem um papel importante na balança comercial, contribuindo positivamente para as exportações nacionais.
Origem e papel da EPAC na gestão do setor agroalimentar
Entre os anos de 1972 e 1974 foram extintos os organismos que, desde a década de 30 do séc. XX, controlavam a produção, a transformação e a comercialização dos cereais em Portugal
Em 1974, o Instituto dos Cereais herdou as funções de coordenação, disciplina e intervenção económica da Federação Nacional dos Industriais de Moagem e dos grémios dos industriais de Arroz, de Panificação e de Moagem.
Em 1976, o Instituto dos Cereais transformou-se em empresa pública, passando a designar-se Instituto dos Cereais, E.P. (ICEP), sendo também instituída a Empresa Pública de Abastecimento de Cereais (EPAC) pelo mesmo Decreto-Lei 663/76, de 4 de agosto.
O Decreto-Lei nº 551/77, de 31 de dezembro, extinguiu o ICEP e alargou o âmbito de intervenção da EPAC. Em 1991, pelo Decreto-Lei nº 26/91, de 11 de janeiro, a EPAC foi transformada em sociedade anónima de capitais públicos, alterando a sua designação para Empresa para a Agroalimentação e Cereais, S.A. A 25 de Maio de 1998 foi constituída a sociedade anónima EPAC Comercial, Produtos para a Agricultura e Alimentação, dissolvida pouco depois pelo Decreto-Lei nº 187/2001, de 25 de junho.
Criação da Silopor e evolução da sua atividade
Criada em 1986 como “spinoff” da área de negócio dos silos portuários da EPAC (Empresa para Agroalimentação e Cereais), antigo monopólio estatal dos cereais, a Silopor herdou os silos da Trafaria (Almada) e do Beato (Lisboa) a par com o de Leixões, no Porto, cuja exploração foi concessionada a uma entidade privada em 2007 (Sogestão, de Manuel Champalimaud) e, desde 2002, opera também o silo interior de Vale de Figueira (Santarém).
Processo de liquidação e desafios enfrentados
O caso da Silopor remonta à década de 1990 quando Bruxelas notificou o Estado português de que tinha de liquidar a EPAC e teve esse mesmo entendimento para a Silopor por resultar de um “spin-off”
Por imposição da Direção Geral da Concorrência da União Europeia, após a liberalização dos mercados de comércio de cereais, a Silopor entrou em liquidação em 2000, mas como “não existiam outros silos com as condições para receber navios de grandes dimensões em Portugal, apesar de estar juridicamente em liquidação mantém-se em operação completa”.
Em 2022, a empresa gerou lucros de 3,83 milhões de euros, mais 60,1% face a 2021, com esse ano a figurar como o período em que a Silopor, que conta com um universo de 85 trabalhadores, “registou o maior volume de movimentação e o mais elevado resultado da sua história”, segundo o relatório e contas anual da comissão liquidatária
A condição da Silopor é, porém, limitativa, designadamente em termos de investimento. Como realçou Abel Vinagre, as “amplas reservas financeiras” até permitiriam “aumentar a capacidade de armazenagem da Silopor”, que fica muitas vezes perto do seu limite, dado que se mantém inalterada há mais de 30 ano.
Contudo, esse investimento “não tem sido autorizado ao longo de todos estes anos, uma vez que a empresa estava em liquidação não pode fazê-lo sem autorização do acionista”.
Objetivo da nova empresa pública e alienação de capital
A criação da nova empresa pública tem como objetivo principal assegurar a gestão eficiente e sustentável dos ativos portuários em Portugal. Com a nova empresa, será possível centralizar as operações portuárias e garantir uma gestão mais integrada, focada na inovação, competitividade e desenvolvimento económico.
No contexto da alienação de capital, a empresa poderá futuramente abrir parte do seu capital a investidores privados estratégicos, mantendo, no entanto, o controlo público através da concessão.
Esta abordagem visa atrair capital e know-how especializado, sem comprometer o interesse público, especialmente em áreas críticas como a segurança alimentar, que envolve empresas como a Silopor (que gere silos de cereais e produtos alimentares).
Estruturação do novo modelo de concessão portuária
Com a nova empresa pública, haverá também uma reestruturação do modelo de concessão portuária, que deverá adaptar-se aos novos desafios globais e regionais. Este novo modelo visa aumentar a eficiência e promover a transparência, estabelecendo contratos mais equilibrados, com metas claras de desempenho operacional e investimentos.
A Silopor, como parte desta nova estrutura, desempenhará um papel crucial na cadeia logística e no armazenamento de produtos essenciais
O fim da concessão atual em Lisboa e os impactos esperados
Com o fim da concessão atual no Porto de Lisboa, a transição para o novo modelo trará uma série de impactos, que exigirão uma gestão cuidadosa. A mudança de concessionários pode causar perturbações operacionais se não for bem coordenada, mas também oferece oportunidades para reestruturar o porto e aumentar a sua eficiência.
A Silopor será afetada por essa transição, visto que sua operação está diretamente ligada às atividades portuárias de Lisboa.
Atual estado das infraestruturas e equipamentos
O Terminal de Granéis Alimentares da Trafaria, operado pela Silopor, está localizado na margem sul do estuário do rio Tejo, no Porto de Lisboa. Este terminal é especializado na receção e movimentação de granéis agroalimentares, desempenhando um papel fundamental na cadeia logística de cereais em Portugal.
As principais características do terminal incluem uma área total de 15.9 hectares, uma capacidade de armazenamento de 200 mil toneladas com uma movimentação anual de 2.2 milhões de toneladas. Quanto aos comprimentos de cais possui 255 metros, para importação 220 metros, para transhipment 240 metros, e para barcaças 210 metros., O terminal possui uma profundidade que varia entre os -7 e -17,5 metros em relação ao seu 0 hidrográfico.
Este terminal está equipado com infraestrutura moderna, como o Sistema de Gestão de Segurança Alimentar certificado pela norma ISO 22000, que assegura a qualidade e segurança dos produtos armazenados. No entanto, em 2023, o silo da Trafaria estava a operar quase no seu limite de capacidade.
Essa sobrecarga nas infraestruturas compromete a eficiência do processo de armazenagem e distribuição, além de aumentar o risco de danos nos produtos. Além disso, a empresa encontra-se em processo de liquidação, o que limita a capacidade de realizar investimentos essenciais para a modernização e expansão das suas instalações.
Planeamento para modernização e melhoria da capacidade operacional
Com a crescente pressão sobre as infraestruturas da Silopor, a necessidade urgente de investimentos tornou-se cada vez mais evidente, o que levou o Governo português, em março de 2025, a aprovar a privatização da gestão dos silos da Trafaria, Beato e Vale de Figueira.
O objetivo dessa medida é assegurar que os novos gestores, ao assumirem a concessão, possam direcionar os recursos necessários para a modernização das instalações e a melhoria da capacidade operacional.
Este movimento de privatização, que prevê a entrada de investidores privados, visa não só aumentar a capacidade de armazenagem, mas também modernizar os processos operacionais, tornar a infraestrutura mais eficiente e adaptada às novas exigências do mercado.
A introdução de tecnologias avançadas, como sistemas automatizados de carregamento e descarregamento, monitoramento remoto de condições de armazenagem e inteligência artificial para a gestão de stocks, poderia revolucionar a operação da Trafaria, permitindo maior capacidade de resposta, redução de custos operacionais e aumento da eficiência no processo de distribuição.
A modernização das infraestruturas não se resume apenas à ampliação dos espaços de armazenagem, mas também inclui a implementação de soluções que melhorem a segurança e a rastreabilidade dos produtos, com a utilização de sensores de temperatura e humidade, que garantem melhores condições de conservação dos cereais armazenados, além de reduzir o risco de perdas e deterioração.
Resumo dos principais desafios e oportunidades
O setor de cereais em Portugal enfrenta desafios significativos, como a dependência de importações para suprir as necessidades internas, a volatilidade dos preços internacionais e os riscos climáticos que afetam a produção agrícola.
A escassez de capacidade de armazenagem, especialmente nas infraestruturas da Trafaria, tem agravado esses problemas, limitando a capacidade de armazenamento de cereais e aumentando os custos de operação.
Contudo, com a privatização da Silopor e o incentivo a investimentos privados, surgem novas oportunidades para enfrentar esses desafios de forma mais eficaz. A modernização das infraestruturas da Trafaria e a melhoria das capacidades operacionais representam uma oportunidade única para fortalecer a cadeia de abastecimento de cereais, melhorar a competitividade do setor e garantir maior autonomia em relação às importações.
A introdução de soluções tecnológicas e a expansão da capacidade de armazenagem permitirão uma gestão mais eficiente do stock e de cereais e uma melhor resposta às flutuações de demanda e oferta.
Perspetivas para o futuro do mercado de cereais em Portugal
Com a privatização das infraestruturas da Silopor e a entrada de investimentos privados, espera-se que o mercado de cereais experimente uma transformação significativa nos próximos anos.
A modernização das instalações, como a ampliação da capacidade de armazenagem e a adoção de tecnologias avançadas, automação e monitoramento inteligente, permitirá que as operações de armazenagem e distribuição se tornem mais ágeis, eficientes e adaptadas às exigências globais.
Isso não só aumentará a competitividade do setor português, mas também ajudará a melhorar a segurança alimentar no país, reduzindo a dependência de importações e permitindo uma maior capacidade de resposta às flutuações sazonais da oferta e da procura.
Fontes:
https://agrosustentar.com.br/agronegocio/maiores-produtores-milho/~
https://blog.culte.com.br/top-10-maiores-produtores-de-trigo-do-mundo/~
https://agrosustentar.com.br/agronegocio/maiores-produtores-arroz/
https://www.silopor.pt/historia/
https://www.linkedin.com/company/silopor/?originalSubdomain=pt
https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4169363
ANA ANDRADE, MARIA DINIZ, MARTIM SANTOS, RICARDO RIBEIRO
Alunos da ENIDH