Moçambique volta a ter cabotagem marítima, em plena crise da Covid-19. Pedro Monjardino, gestor na SMC, falou do projecto ao TRANSPORTES & NEGÓCIOS.
O navio Greta está a realizar a viagem inaugural do há muito anunciado novo serviço de cabotagem marítima em Moçambique. A operação está a cargo da SMC – Sociedade Moçambicana de Cabotagem, uma joint-venture entre a Transmarítima – Empresa Moçambicana de Transporte Marítimo e Fluvial, detida a 100% pelo Estado moçambicano, e o grupo francês de logística e transporte marítimo, Peschaud International.
Ao TRANSPORTES & NEGÓCIOS, Pedro Monjardino, gestor do projecto na SMC, adiantou que o novo serviço ligará os portos de “Maputo, Beira, Quelimane, Nacala e Pemba, numa rotação de 11-13 dias”. As viagens serão realizadas com o Greta, um navio “multipurpose, com capacidade para 260 contentores, equipado com duas gruas de 60 toneladas e com a estrutura reforçada para cargas de projecto”.
Um segundo navio, o Ylang – “com capacidade de 450 toneladas, 440 mil litros de combustível e com uma grua de 30 toneladas” – ligará o porto de Pemba “a Macimboa da Praia e Afungui”, acrescentou.
Contentores, carga geral e carga de projecto serão os tipos de carga a transportar ao longo da estrada marítima de cerca de 2 500 quilómetros que compreende a costa moçambicana.
Anunciado em 2018, o serviço só agora arrancou, em plena crise da Covid-19. Uma circunstância que, no entender de Pedro Monjardino, pode não ser um obstáculo, pelo contrário. “O estado de depressão em que o país vive, já antes da Covid, fez com que alguma linhas de navegação tenham decidido deixar de escalar alguns portos de Moçambique e pretendam escalar apenas um porto. Isso permite um acréscimo de carga substancial”.
“Outro aspecto relevante tem a ver com o elevado custo de transporte rodoviário nas distâncias mais longas. Vamos assistir a uma redução de preços e a novas formas de oferecer serviço marítimo”, acrescentou, lembrando ainda que “as alterações normativas já aprovadas e a serem implementadas, nomeadamente as alterações das operações portuárias e as reduções de tarifas portuárias para a cabotagem, associadas a uma redução das importações e exportações deixam espaço para que o projecto se desenvolva sem muita “ competição” da actividade tradicional dos portos”.
Pedro Monjardino destacou ainda a esperada melhoria da “performance dos portos e do sistema aduaneiro” com a implementação da Janela Única.
Nascida para assegurar as ligações entre os portos de Moçambique, a SMC já olha para outras oportunidades, nomeadamente “para o porto de Durban [África do Sul]”, numa lógica de complementaridade entre os serviços de shortsea e de feedering, concluiu.