Doze anos volvidos, a SNCF Fret precisará de nova operação de recapitalização, antecipa o Tribunal de Contas francês. Mas antes disso a empresa e o Estado terão de fazer os seus trabalhos de casa, avisa.
Em 2005, o governo de Paris injectou 1,4 mil milhões de euros na filial de transporte de mercadorias da operadora pública ferroviária SNCF. Dez anos volvidos, no final de 2014, o endividamento financeiro da companhia superou os quatro mil milhões de euros (4 025 milhões), mais que duplicando os 1 79 milhões registados em 2008. Para 2020, o plano estratégico da companhia prevê um passivo de 5,1 mil milhões de euros.
Facto é que em 2015, assinala o Tribunal de Contas gaulês, os resultados líquidos, negativos em 253 milhões de euros, representaram 23,9% do volume de negócios, que foi então de 1 060 milhões de euros.
Facto é também a margem operacional da operadora permanece fortemente negativa, mesmo se evidenciando melhorias (insuficientes). Em 2009, as perdas operacionais foram de 367 milhões de euros e em 2015 ainda ficaram nos 86 milhões de euros.
Perante estes dados, o Tribunal de Contas francês considera praticamente inevitável nova operação de recapitalização, que terá de passar pelo crivo de Bruxelas. A pensar nisso, e não só, os juízes deixam algumas recomendações. Do lado da empresa, recomenda-se, por exemplo, um continuado esforço de contenção dos custos de estrutura (nomeadamente salariais) e uma melhoria da produtividade, a par de melhorias na transparência na estrutura das contas e na contabilidade analítica.
Ao Estado francês, o Tribunal de Contas critica, nomeadamente, as contradições na política de transportes, por um lado em prol do desenvolvimento do transporte ferroviário, mas por outro favorecendo o continuado crescimento do transporte rodoviário (por exemplo, com as 44 toneladas ou a não implementação da eurovinheta). O Tribunal de Contas defende ainda a estabilização das ajudas financeiras aos operadores de transporte combinado e da compensação pelas taxas de utilização da infra-estrutura ferroviária.
Exigir Bruxelas um Operador Ferroviário rentável, fixando regras restritivas para a ferrovia quando comparado com outros modos de transporte concorrênciais, a circular numa infraestrutura ferroviária gerida pelo estado, com objetivo de lucro, desligada de um plano integrado de mobilidade e de logística de transporte, para além de ferir a livre concorrência num mercado de transporte que se pretende liberalizado, cria todas as condições para que operações de recapitalizacao sejam recorrentes.