A estratégia de focalização nas smart cities e na gestão da mobilidade está a dar frutos na Soltráfego. A empresa facturou 4,2 milhões de euros em 2014 e aposta em chegar aos 4,5 milhões este ano, avança o presidente, Carlos Oliveira, em entrevista ao TRANSPORTES & NEGÓCIOS
T&N – Qual o volume de negócios da Soltráfego em 2014?
Carlos Oliveira – Fechámos o ano com um volume de negócios de 4,2 milhões de euros. Crescemos a um ritmo médio de 9% nos últimos dois anos, com o EBITDA ligeiramente acima dos 11% das vendas. Esta prestação resulta duma estratégia focada no mercado das smart cities e da gestão da mobilidade, em que a notoriedade da marca Soltráfego é associada ao serviço e à inovação o que nos permite chegar a mais clientes e aumentar a quota de mercado.
T&N – Como está a ser 2015?
Carlos Oliveira – O mercado tem confiança na equipa e nas soluções inovadoras desenvolvidas pela Soltráfego. Contrariámos o cenário de contenção na construção e reduzido investimento público com enfoque nos novos desafios do mercado, na inovação, tecnologia e no serviço. O pipeline de obras/trabalhos em carteira cresceu 20% e no final do primeiro semestre iremos cumprir a meta para o período, com um ritmo de facturação 5% superior ao ano anterior.
Na área do estacionamento, alinhados com o aumento da procura e expectativa do mercado, reforçamos a oferta em soluções de parcómetros com múltiplas opções de pagamento e com gestão centralizada.
Na área de gestão de tráfego, a aposta da Soltráfego tem sido na implementação de plataformas de centralização e monitorização remota de sistemas semafóricos, em tempo real.
T&N – Como contam fechar o ano?
Carlos Oliveira – Para 2015 prevemos um crescimento moderado das vendas, tendo estabelecido um objectivo na ordem dos 4,5 milhões de euros. Em termos percentuais este crescimento está abaixo dos dois dígitos, mas assenta em previsões e metas realistas.
T&N – A empresa está em vários projectos de Norte a Sul de Portugal. A internacionalização está nos horizontes?
Carlos Oliveira – O modelo de internacionalização da Soltráfego baseia-se numa rede de parcerias com empresas portuguesas a operar em mercados externos. Colaboramos no projecto, engenharia, integração tecnológica e na instalação de equipamentos para a gestão da mobilidade, do trânsito e do estacionamento. Exemplo disto são os sete parques de estacionamento instalados em locais privilegiados da cidade de Luanda, os semáforos e controladores de tráfego com alimentação híbrida (rede e solar) no Dundo, Sumbe e Benguela (Angola) e o controlo de acessos do porto da Cidade da Praia.
T&N – A Soltráfego refere apostar numa postura de smart cities e não apenas em ser uma empresa de sinalização. O que fez a empresa mudar?
Carlos Oliveira – A nova consciência urbana, a transformação das cidades em espaços inteligentes, competitivos e inclusivos são realidades incontornáveis. Estamos em plena era da ‘internet das coisas’ e a cidade, a informação e a mobilidade são simultaneamente os eixos agregadores e o desafio.
Consciente desta mudança de paradigma, a estratégia da Soltráfego assume uma visão inteligente e eficiente do espaço urbano, apostando em soluções de gestão de energia, mobilidade e TIC para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e a gestão das cidades. Com esta postura dinâmica, atenta e actual, alavancada na nossa visão e profundo conhecimento do mercado e da tecnologia, a Soltráfego tem abraçado de uma forma crescente exigentes projectos transversais de engenharia para as smart cities.
Este ano desenvolvemos um projecto para a gestão da mobilidade da Cova da Iria com a Câmara Municipal de Ourém, a pensar na circulação dos cerca de cinco milhões de pessoas que anualmente visitam o Santuário de Fátima. Fundamentalmente, trata-se de uma solução integrada para a monitorização dos acessos à cidade, optimização de fluxos de circulação e informação ao condutor, gestão de estacionamento on e off street (parcómetros e parques de estacionamento) e informação de lugares de estacionamento livres para facilitar a chegada ao santuário.
Na mobilidade suave instalámos sistemas de bike sharing de terceira geração em Paredes, Santarém, Serpa e Torres Vedras; as “Agostinhas” de Torres Vedras têm recebido variadíssimos prémios pela inovação tecnológica e boas práticas na área da mobilidade sustentável (Rede ‘Civitas’), como o ‘A Smart Project for Smart Cities’ da Inteli ou ‘Energy Globe Award’, concedido pela Embaixada da Áustria.
Na eficiência energética temos um longo historial de colaboração com as agências de energia e com os municípios no diagnóstico, projecto e substituição de 60 mil semáforos incandescentes por tecnologia LED nos últimos cinco anos, com reduções de consumo superiores a 85%.
Na gestão de tráfego desenvolvemos plataformas para a centralização e monitorização remota de sistemas semafóricos, bem como para a contagem/classificação de viaturas e medição de velocidades, o que permite optimizar estratégias de gestão de tráfego e aumentar o sucesso das medidas de acalmia e segurança rodoviária.
T&N – Quanto vale a sinalização tradicional versus a sinalização integrada no conceito de mobilidade das smart cities na facturação da Soltráfego?
Carlos Oliveira – Os conceitos de smart city, mobilidade inteligente e desenvolvimento sustentável são transversais a todos os projectos que desenvolvemos. As soluções integradas que apresentamos são para o cidadão e para a melhoria da qualidade de vida, segurança e eficiência da cidade, nos seus fluxos rodoviários e de peões.
T&N – Qual será essa importância no médio prazo?
Carlos Oliveira – As cidades inteligentes são uma prioridade nas políticas da União Europeia e de Portugal.
O programa Horizonte 2020, com um orçamento de 6,34 mil milhões de euros para transportes inteligentes, ecológicos e integrados, lançou à indústria o desafio para a inovação na mobilidade, organização dos transportes e logística para melhorar a eficiência das zonas urbanas, focado no benefício do cidadão que vive e trabalha nas cidades.
Por outro lado, os agentes nacionais estão atentos à inovação e desafiam-nos para a aplicação da tecnologia aplicada à mobilidade.
Próxima desta realidade em permanente evolução, a Soltráfego é reconhecida pelo desenvolvimento de soluções que vão permanentemente ao encontro dos novos paradigmas da mobilidade, tendo em vista a melhoria da sinalização e das infra-estruturas para acalmia de tráfego, a redução de congestionamento e acidentes, a interoperabilidade de sistemas de informação ou pagamento de serviços e a informação ao condutor de melhores percursos rodoviários e da disponibilidade de estacionamento.
T&N – Uma vertente importante das smart cities é o estacionamento, para permitir a intermodalidade entre o transporte pessoal e o público (por público, os transportes tradicionais, mas também o bike sharing, por exemplo) nos movimentos pendulares. Nesse sentido, os preços médios dos parques de estacionamento nas principais cidades portuguesas podem ser considerados elevado para o nível de vida nacional?
Carlos Oliveira – Portugal tem uma elevada taxa de motorização e os movimentos pendulares nas grandes cidades representam 50 a 60% do volume de tráfego rodoviário, o que inevitavelmente induz o congestionamento e uma elevada procura de lugares de estacionamento.
No entanto, Portugal nos últimos anos tem evoluído positivamente nas suas políticas e estratégias de ordenamento urbano e de tráfego, fruto de uma maior preocupação e foco nos temas da mobilidade e acessibilidade, com o envolvimento dos diversos actores (sociedade civil, municípios, universidades, indústria) nesta estruturação. Veja-se o exemplo da Área Metropolitana do Porto: na rede do Metro do Porto existem 32 zonas de estacionamento com capacidade para 3 400 viaturas, para facilitar o acesso ao transporte público.
A Câmara de Almada instalou cinco parques de estacionamento de dissuasão com informação do número de lugares livres para os condutores, estrategicamente construídos junto aos acessos do Metro Sul do Tejo. Em Torres Vedras, o bike sharing tornou-se uma alternativa às deslocações no centro da cidade, com a adesão de mais 1400 utilizadores em cerca de um ano e meio.
Neste contexto, o preço do estacionamento depende do custo do espaço e do balanceamento entre a oferta e a procura. Se comparado com as alternativas disponíveis de transporte público e com os preços do estacionamento nas outras cidades europeias, o preço médio do estacionamento em Portugal é equilibrado.