Penalizada pelo mercado e pela concorrência da CP Carga, a Takargo está cada vez mais centrada nos tráfegos ibéricos. A “culpa” é da forma como a liberalização do mercado foi (mal) feita, dispara Pires da Fonseca, que está de saída da empresa.
“A liberalização do mercado [nacional de transporte ferroviário de mercadorias] foi mal feita. A CP Carga, empresa pública, não saiu do mercado, e não houve uma monitorização da forma como eram construídos os preços praticados para permitir uma concorrência leal”, referiu ao TRANSPORTES & NEGÓCIOS o até agora homem forte da Takargo.
A CP Carga reclama a quase totalidade do mercado dos contentores marítimos e a maioria nos restantes tráfegos. Pires da Fonseca alerta para o “défice crónico” e para o “aumento do endividamento” da empresa pública.
Mas as críticas não se ficam por aí. “A política de gestão dos terminais é absurda”, acusa, “pois impede os operadores de utilizarem bases logísticas no país. Se não fosse Alverca [SPC] e o TVT a Takargo não podia operar em lado nenhum!”.
Actualmente, no mercado nacional a Takargo tem “três corredores consolidados”: Entroncamento-Alverca-Siners (biodiesel para a Galp), Pataias-Setúbal (clínquer para a Secil) e Figueira da Foz-Sines (gesso e calcácio para a Secil).
O essencial da actividade concentra-se, por isso, nos tráfegos ibéricos, através da Ibercargo, uma parceria 50-50 com os espanhóis da Comsa Rail.
“O mercado ibérico é um nicho, pois os operadores públicos dos dois países nunca se entenderam”, sustenta Pires da Fonseca. Além do que, refere, “os preços e as distâncias são mais interessantes”.
Com uma frota de locomotivas interoperáveis, a aposta centra-se nos tráfegos transfronteiriços, nos corredores “Barcelona-Portugal, Saragoça-Portugal, Levante-Portugal-Vigo e Portugal-Galiza”. E “para manter as frequências semanais teve de afectar todos os seus activos”, conclui.
Pires da Fonseca está ainda na capital de Moçambique, onde passou os últimos meses a desbravar terreno para a Mota-Engil tentar participar nos investimentos previstos para a ferrovia naquele país.
O novo presidente da Takargo Rail é Eduardo Pimentel, que acumula assim mais uma empresa do universo Tertir / Mota-Engil. Sendo que em regra não é ele o executivo (vejam-se os casos dos operadores de terminais portuários, por exemplo).
A Ibercargo Rail tem como director geral Guillermo García.