A nossa TAP foi constituída em 1945 e foi a primeira companhia aérea da Europa a ter toda a sua frota com aviões a jato, no ano de 1967.
É uma empresa que se mistura com a nossa história, querida por todos nós, a nossa a única referência na área dos transportes e uma bandeira de projeção nacional.
Quando a Comissão Europeia aprovou o plano de reestruturação da TAP, que envolveu um auxílio do Estado autorizado de 3,2 mil milhões de euros, percebeu-se imediatamente que o processo ia correr muito mal.
Por um lado, as declarações do então Ministro das Infraestruturas revelavam um desconhecimento profundo da dimensão e complexidade do processo que estava a preparar. Por outro lado, não deixou de ser estranho o fato de o primeiro-ministro não ter optado por manter o assunto da TAP na sua alçada política durante todo o processo de reestruturação. Estava em causa a salvação da companhia.
A preparação e execução de um plano de reestruturação desta dimensão é um processo muito complexo, uma vez que pressupõe, entre muitas outras, a escolha da pessoa certa para o liderar, uma equipa com alta capacidade e complementar ao líder por si escolhida e, fundamental, liberdade de implementação do processo e sua gestão por parte da tutela em relação à equipa executora. O que a realidade nos está a mostrar é que parece que quem não percebia o que é um plano de reestruturação é a própria tutela.
Quando num processo de reestruturação a tutela decide intervir na gestão destes processos, algo de grave aconteceu: o plano não está a ser seguido conforme foi acordado e isso é de extrema gravidade.
No caso da TAP, e pelas informações que têm vindo a publico por estes dias, o assunto assume uma gravidade ainda mais extrema ao serem tornadas públicas informações que demonstram que a tutela interveio diretamente no processo de gestão da companhia.
Quando a tutela sugere à CEO da TAP a alteração de um voo comercial em nome da Presidência da República é apenas um exemplo simples de que a tutela está a agir contra o plano de reestruturação previamente definido e acordado pela própria tutela. Não há reestruturação que resista.
O processo de despedimento da CEO da TAP por parte do governo líquida não só o processo de reestruturação que, curiosamente, apresenta resultados financeiros positivos, como demonstra à indústria da aviação internacional como o Governo Português trata os profissionais internacionais que contrata.
Quem vai assumir os danos reputacionais da TAP?
PEDRO MONJARDINO
Diretor Geral da Strategio Consulting