As operações da TAP e SATA em Cabo Verde são deficitárias e só possíveis com a ajuda estatal, garante o presidente da Cabo Verde Airlines (CVA).
Há quase um ano que a Cabo Verde Airlines cessou as operações comerciais, enquanto a TAP e a SATA mantêm as ligações com o arquipélago. O que tem gerado críticas locais.
“Creio que as críticas à gestão das companhias aéreas assentam em sentimentos e não em argumentos empresariais. Como escrevi recentemente numa carta ao nosso staff, os nossos concorrentes SATA e TAP operam um modelo de negócio onde o arquipélago [de Cabo Verde] é apenas um ponto da sua operação em hub. Ambas as companhias aéreas também receberam centenas de milhões de euros em ajuda governamental. Eles usaram esse dinheiro para operar voos deficitários para Cabo Verde e em todo o mundo”, afirmou Erlendur Svavarsson, presidente da CVA, em entrevista à “Lusa”.
Desde Agosto que as duas companhias aéreas portuguesas estão a assegurar voos para o arquipélago de Cabo Verde, além da Praia, também para as ilhas de São Vicente e, recentemente, do Sal, mantendo-se a CVA totalmente inoperacional e com os mais de 300 trabalhadores em lay-off.
“Vimos o número de passageiros a embarcar e desembarcar na Praia e em São Vicente nos últimos meses. Esses números têm sido extremamente baixos e permanecerão assim por semanas ou meses. Esta falta de passageiros não é surpreendente, porque o processo de vacinação, na Europa e em todo o mundo, ainda não atingiu um ponto em que os governos sejam incentivados a abrir fronteiras e os indivíduos a viajarem livremente”, sublinhou o administrador da CVA.
Erlendur Svavarsson afirmou que a pandemia de Covid-19, que condicionou as companhias aéreas em todo o mundo, “continua inabalável” e está agora “pior do que nunca”.
“Há muitos meses estava previsto que a normalidade não voltaria até que uma vacina fosse desenvolvida, aprovada e distribuída. Em muitos de nossos principais mercados, especialmente na Europa, o processo de aprovação e distribuição foi atrasado além do que esperávamos. Por esta razão, os bloqueios estão voltando, as fronteiras estão se fechando mais uma vez e a incerteza substituiu o optimismo para a maioria das pessoas e indústrias”, recordou o administrador.
“Para além destes factores exógenos, a futura actividade comercial da sociedade continua sujeita a acordo entre acionistas. É claro, porém, que a menor demanda de passageiros, prevista para os próximos meses e anos, exigirá uma redução nos voos, em relação a 2019″, concluiu Erlendur Svavarsson, embora sem concretizar um horizonte para a retoma da atividade da CVA.
Em Março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde), por 1,3 milhões de euros, à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no sector da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
O Governo concluiu em 2020 a venda de 10% das ações da CVA a trabalhadores e emigrantes, mas os 39% restantes, que deveriam ser alienados em Bolsa, a investidores privados, vão para já ficar no domínio do Estado, decisão anunciada pelo Executivo, devido aos efeitos da pandemia.
Após a suspensão de todos os voos da companhia aérea cabo-verdiana, em Março de 2020, devido à pandemia de Covid-19, foram divulgadas nos meses seguintes negociações entre a administração e o Estado, para um apoio financeiro à CVA.