Os portos desempenham hoje um papel ativo na cadeia logística, em particular no sistema global de transportes, enquanto centros de distribuição multimodal através das conexões marítimas, fluviais, rodoviárias, ferroviárias e aéreas estabelecidas ao longo da sua área de influência.
São centros industriais de natureza marítima ou fluvial e constituem polos de concentração de empresas e atividades que incluem diversos serviços à carga e aos navios. E além de suporte às tradicionais atividades de náutica de recreio, pesca, aquicultura, construção naval e indústria de cruzeiros, têm-se constituído importantes clusters de aceleração da economia do mar (DGPM, 2021).
Pela sua localização estratégica, infraestrutura e equipamentos especializados, têm também servido de ponto de apoio às atividades de exploração dos recursos energéticos offshore e à inspeção de infraestruturas subaquáticas. E mais recentemente, com a necessidade de trilhar a rota para a descarbonização, têm-se constituído como centros de produção de energia renovável (solar, eólica e das ondas) (Alamoush et al., 2022).
As dinâmicas que se desenvolvem em torno das infraestruturas portuárias têm levado a que as empresas do setor – onde se incluem as companhias logísticas, centros de processamento e distribuição, armazéns e transitários – se estabeleçam no interior ou na envolvente dos portos, por forma a oferecer serviços cada vez mais rápidos, de menor custo e de valor acrescentado (Monteiro, 2022). Como tal, na envolvente das infraestruturas portuárias há promoção do emprego local e são consolidadas cadeias logísticas que reforçam a posição económica da região e do país, em forma de ciclo virtuoso (DGPM, 2021).
A carga contentorizada tem sido, em particular, o grande motor do crescimento do comércio à escala global. Com o intuito primordial de responder à necessidade de redução dos custos de transporte e incremento da produtividade, a utilização de contentores padronizados promoveu paralelamente a redução dos tempos de carga e descarga, a segurança das mercadorias, a flexibilidade intermodal, e facilitou o planeamento de rotas de transporte e das operações portuárias (Odiegwu, 2022).
A conjunção destes diversos fatores, aos quais se somam as recentes – mas infindáveis – potencialidades das novas tecnologias, tem promovido a redefinição da arquitetura do comércio global e, consequentemente, dos planos estratégicos dos portos. No sentido de aproveitar as economias de escala geradas pela contentorização, as cadeias logísticas tornaram-se cada vez mais extensas e complexas e deu-se a encomenda de navios porta-contentores de maiores dimensões e capacidade (Levinson, 2021). Sucedeu também a generalização da estratégia de hub-and-spoke onde navios feeder distribuem a carga descarregada em portos de maior dimensão (geralmente de águas profundas e com maior capacidade de resposta operacional) aos portos secundários existentes na respetiva área de influência.
Além disso, a emergência de novas rotas marítimas globais, o desenvolvimento dos principais canais de transporte marítimo e, principalmente, a concentração e verticalização das grandes alianças marítimas apresentam, como alertado na Estratégia para o Aumento da Competitividade da Rede de Portos Comerciais do Continente – Horizonte 2026, um vasto leque de desafios a encarar pelos portos e terminais.
Com efeito, para garantir a competitividade, os terminais de contentores têm necessidade de melhorar continuamente o seu desempenho, oferecendo elevados níveis de serviço aos mais baixos custos praticáveis e satisfazendo as necessidades dos clientes enquanto, idealmente, continuam a conquistar quota de mercado. São por isso necessários investimentos avultados para modernizar, adaptar ou substituir as estruturas e equipamentos existentes pelos mais adequados à procura do momento (Sánchez et al., 2020), evitando situações de congestionamento e atrasos. Apesar disso, ajustar a capacidade ao volume de tráfego esperado não é um processo simples, devendo assumir-se que ocorrerão ocasiões de sub- e sobre-capacidade. Por outro lado, não investir pode implicar a estagnação do rendimento e o subaproveitamento dos ativos (Monteiro, 2022), podendo mesmo ocorrer perda de competitividade e de quota de mercado por redução do potencial de crescimento.
…planear, gerir e prever, no âmbito do contexto específico de cada porto, são ações fundamentais para garantir a adequada estratégia ao nível dos terminais com o objetivo de manter a competitividade e atratividade do negócio, construir resiliência e resistir a perturbações de mercado.
No sentido de combater os desafios da atualidade, diferentes estratégias têm sido seguidas à escala das possibilidades e oportunidades endógenas, e dos contextos económicos, geográficos e regulatórios de cada porto. Genericamente, por razões históricas, muitos portos localizam-se em estuários e perto de zonas urbanas, com acessibilidades terrestres congestionadas, em locais de pouca profundidade e com constrangimentos à expansão.
Como tal, alguns exemplos de soluções adotadas incluem o alargamento e aprofundamento dos canais de acesso e navegação (relevantes para acolher navios de maior boca e calado), o aumento da cota do tabuleiro de pontes existentes que possam gerar constrangimentos de acesso ou a substituição por elementos móveis (relevantes para a passagem de navios para novas zonas de acostagem), o aumento do comprimento de cais (para acolher navios de maior comprimento e em maior número em simultâneo), a aquisição de novos terrenos ou a reclamação de área molhada para a expansão de terraplenos, o reforço estrutural de zonas de acostagem e amarração e a aquisição de equipamentos mais modernos, eficientes e adequados (nomeadamente em altura, alcance e capacidade de carga).
A digitalização, a automação e a incorporação de outras tecnologias da quarta revolução industrial (como a robótica, IoT, cibersegurança, realidade aumentada, megadados, computação na nuvem, integração de sistemas, entre outros) têm-se demonstrado complementos fundamentais à promoção da eficiência, fiabilidade e otimização dos processos e atividades portuárias. Também a aquisição de portos secos por parte das administrações portuárias, enquanto plataformas logísticas de retaguarda, tem contribuído para a melhor gestão da receção, armazenamento e escoamento de cargas (Sánchez et al., 2020).
Impõem-se, ainda assim, incertezas quanto aos modelos de evolução do comércio global que advêm da ocorrência de disrupções como pandemias, conflitos geopolíticos, instabilidade dos mercados financeiros, a dependência energética e de recursos, bem como a contínua e crescente emergência climática. Assim sendo, devem-se assegurar planos de desenvolvimento viáveis, suportados em dados de monitorização de registos passados e em modelos de previsão de tendências futuras, e flexíveis, no sentido de maximizar as taxas de utilização dos terminais.
Face ao exposto, planear, gerir e prever, no âmbito do contexto específico de cada porto, são ações fundamentais para garantir a adequada estratégia ao nível dos terminais com o objetivo de manter a competitividade e atratividade do negócio, construir resiliência e resistir a perturbações de mercado.
Referências bibliográficas
Alamoush, A, Ölçer, A, Ballini, F (2022) Port greenhouse gas emission reduction: Port and public authorities’ implementation schemes. Research in Transportation Business & Management, 43, 100708.
DGPM (2021) Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030. Direção-Geral de Política do Mar (DGPM), Ministério do Mar. Acessível em: https://www.dgpm.mm.gov.pt/enm-21-30
Levinson, M (2021) Outside the box: How globalization changed from moving stuff to spreading ideas. Princeton University Press.
Monteiro, F (2022) Portos em Portugal. Fundação Francisco Manuel dos Santos, Ensaio Nº122.
Odiegwu, L (2022) Effectiveness of Containerization on Global Transport. Acessível em: SSRN 4189666.
Sánchez, R, Perrotti, D, Gómez Paz, M (2020) Ongoing challenges to ports: the increasing size of container ships. FAL Bulletin Nº 379, Economic Commission for Latin America and the Caribbean, ISSN: 1564-4227.
RITA POMBO
Engenheira Civil / Associada Investigadora
WISTA Portugal