Quatro milhões de euros/dia é quanto poderá custar cada dia de transportes públicos gratuitos em Madrid para compensar a proibição de circulação de viaturas privadas. Tudo em nome da qualidade do ar.
As contas foram feitas pelo Consórcio de Transportes de Madrid (entidade que gere os autocarros urbanos, interurbanos e o serviço de Metro) e divulgadas pelo “El País”. Em cada dia de transporte gratuito a perda de receitas será de quase 1,9 milhões de euros. Se os detentores de passes exigirem a devolução do dinheiro pago em proporção haverá que contar com um custo de mais dois milhões de euros/dia.
É o preço a pagar pelo protocolo para limitar a contaminação do ar que foi lançado pela anterior presidente da Câmara Municipal de Madrid, Ana Botella, e que a actual autarca, Manuela Carmena, não só manteve como endureceu, com a aposta em transportes públicos gratuitos nas zonas de proibição de circulação de veículos privados.
Quatro níveis de alerta
O protocolo de Madrid prevê quatro níveis de prevenção/intervenção face à poluição atmosférica na capital espanhola.
O primeiro nível corresponde ao primeiro dia de pré-aviso, que é accionado se duas estações de medição da qualidade do ar detectarem, durante duas horas, 180 microgramas de dióxido de azoto por metro cúbico. A velocidade de circulação na M30 e acessos é então limitada a 70 km/h.
O segundo nível verifica-se ao segundo dia consecutivo de pré-aviso, ou no primeiro dia de aviso (quando se verifique a existência de 200 microgramas de dióxido de azoto por metro cúbico de ar). É proibido o estacionamento a carros que não sejam de residentes na área em causa.
No terceiro nível (no segundo dia de aviso) proíbe-se a circulação no centro da cidade a metade dos veículos (matrículas par ou ímpar) e a táxis vazios.
No último nível, um extremo que nunca aconteceu em Madrid, quando se ultrapassem os 400 microgramas de dióxido de azoto/m3, a proibição de circulação de automóveis estende-se à M-30.
Caso esta legislação estivesse em vigor no último quinquénio, pelo menos metade dos automóveis de Madrid teriam sido proibidos de circular na capital em seis ocasiões em cada ano,vários dias seguidos em cada um. E com isso o Consórcio teria tido de suportar um custo de até 24 milhões de euros.
600 mil mortes prematuras na Europa
Este tipo de medidas é, por norma, contestada, pois representa um incómodo no quotidiano de muitos cidadãos.
Contudo, a OMS avisa que a má qualidade do ar contribuiu para 600 mil mortes prematuras na Europa, só em 2010. Além do impacto humano, a má qualidade do ar custa, ainda segundo a OMS, 10% do PIB europeu, cerca de 1,4 biliões de euros por ano. Em Espanha, o impacto económico ascende a 38 mil milhões de euros por ano.