Os desafios de armazenamento enfrentados pela indústria eólica offshore são enormes, como se pode ver no exemplo da fábrica de pás eólicas da Siemens Gamesa em Hull, Reino Unido.
O aumento da procura por turbinas eólicas offshore está a levar a um problema de falta de espaço de armazenamento para as pás produzidas. A fábrica em Hull enfrenta restrições de espaço e está a expandir-se para acomodar a produção de pás com cada vez maior comprimento.
A fábrica de Hull é responsável pela produção para grandes projetos eólicos offshore, como o Hornsea Two, Neart na Gaoithe, Kaskasi e SeaMade.
A produção de pás eólicas mais longas, com comprimentos de até 108 metros, apresenta desafios adicionais de operação e armazenamento.
A equipe de logística da Siemens Gamesa Renewable Energy precisa de lidar com o movimento e o armazenamento junto ao local de fabricação.
Quando o espaço se esgota no local principal, as pás são movimentadas para um terminal portuário distante. Mas o transporte e o posicionamento adequados carecem de planeamento cuidadoso para otimizar o espaço de armazenamento e garantir a disponibilidade correta quando são posteriormente necessárias.
A empresa está à procura de soluções para enfrentar o desafio de armazenamento, incluindo o pedido de mais espaço à autoridade portuária e o uso de tecnologia de rastreamento digital para melhorar a eficiência do armazenamento e movimentação das pás.
Além da fábrica em Hull, a Siemens Gamesa possui outras instalações de produção em portos nos Estados Unidos e Dinamarca, para atender à crescente procura global por energia eólica offshore.
A indústria eólica offshore está em crescimento, e governos e empresas estão a estabelecer metas ambiciosas para aumentar a capacidade de geração de energia eólica offshore nos próximos anos.
No caso dos Estados Unidos, o governo Biden estabeleceu metas de implantação de energia eólica offshore, o que representa oportunidades adicionais e desafios de armazenamento para a indústria.
De facto, a nível mundial, a economia da energia verde está a enfrentar vários desafios que afetam o crescimento e a implementação. Um desses desafios é a falta de infraestruturas adequada nos portos para a construção e implantação de turbinas eólicas offshore.
Um estudo realizado pela Universidade de Delaware revelou que os portos de suporte à indústria existentes e planeados nos Estados Unidos serão insuficientes para responder às metas estaduais e federais de energia eólica offshore até 2023.
Além disso, a área disponível nos portos de suporte responde a menos da metade das necessidades projetadas até 2050.
Essa escassez de infraestruturas portuárias é uma dificuldade significativa para a indústria eólica offshore nos Estados Unidos, mas também a nível mundial. O relatório destaca a necessidade de investir em mais portos de suporte à indústria offshore, expandir a área de armazenagem, construção e montagem disponível e utilizar a área existente de forma mais eficiente.
Atualmente, a infraestrutura portuária dos Estados Unidos não é robusta o suficiente para responder à procura crescente, e a dependência excessiva de uma cadeia de abastecimento global internacional também apresenta riscos.
Para garantir o sucesso da indústria eólica offshore nos Estados Unidos, é necessário investir em mais infraestruturas nos portos de suporte às eólicas offshore, expandir a capacidade e encontrar soluções alternativas para utilizar a área existente de forma mais inteligente.
Isso inclui o uso de métodos alternativos, como barcaças entre áreas dispersas situadas no mar, em vários locais nos portos ou em diferentes portos e até para transportar equipamentos do porto para embarcações ou ilhas artificiais de instalação localizadas no mar.
No entanto, essas soluções de curto prazo têm limitações e não são tão eficientes quanto uma infraestrutura portuária adequada.
A Europa está à frente dos Estados Unidos em termos de infraestruturas de energia eólica offshore, com portos mais desenvolvidos e métodos refinados de implantação de turbinas, pelo menos no Norte da Europa.
A escassez de infraestruturas portuária nos Estados Unidos tem implicações não apenas para o crescimento da indústria eólica offshore, mas também para os esforços de mitigação das alterações climáticas.
Atrasos na implantação de projetos de energia limpa podem atrasar os esforços de transição para uma matriz energética mais sustentável. Portanto, é crucial abordar esses desafios e investir em infraestruturas portuárias adequadas para apoiar o crescimento da energia eólica offshore nos Estados Unidos, conclui o estudo. Mas isto também se está a passar em muitos portos europeus.
A transição para uma economia mais limpa exigirá compromisso, cooperação e colaboração entre os setores público e privado. No caso da energia eólica offshore, é crucial desenvolver a infraestrutura portuária adequada para atender às metas de energia eólica offshore estabelecidas pelos governos. A falta de capacidade portuária suficiente é um desafio enfrentado por muitos países, incluindo Portugal, Espanha, Escócia e Irlanda.
No Norte da Europa, os portos de triagem estão a unir-se para resolver os problemas de capacidade e garantir que a construção de parques eólicos offshore possa ocorrer de forma mais rápida e eficiente.
A aliança formada por seis portos europeus – Port Esbjerg (Dinamarca), Port Oostende (Bélgica), Groningen Seaports/Eemshaven (Holanda), Niedersachsen Port/Cuxhaven (Alemanha), Porto de Nantes-Saint Nazaire (França) e Humber (Reino Unido) – visa partilhar conhecimentos e colaborar para enfrentar os desafios relacionados à capacidade portuária.
Na Irlanda, o relatório publicado pela Wind Energy Ireland destaca a escassez de portos adequados para a construção de parques eólicos offshore. Apenas um porto na ilha da Irlanda, Belfast Harbour, está pronto para ser utilizado para a construção de parques eólicos offshore.
A falta de infraestruturas portuárias adequada pode prejudicar a capacidade da Irlanda de atingir suas metas de energia eólica offshore, levando à incerteza e pode aumentar os preços da eletricidade, prejudicando os consumidores irlandeses.
Esses exemplos destacam a importância de investir em infraestruturas portuárias adequadas para apoiar a transição para uma economia mais limpa. A falta de capacidade portuária pode levar a atrasos na construção de parques eólicos offshore e dificultar o cumprimento das metas de energia renovável na Europa.
É necessário um esforço conjunto entre governos, desenvolvedores, operadores portuários e outras partes interessadas para desenvolver a infraestrutura necessária e garantir o sucesso da energia eólica offshore. Portugal não foge a este desafio.
O relatório destaca que em outros países europeus, como França, Alemanha e Escócia, os governos investiram em infraestruturas portuárias para energia eólica offshore, com sucesso. Embora outros relatórios refiram que a Escócia não aproveitou em pleno o potencial da cadeia de abastecimento no seu território, recorrendo a portos no exterior.
Algumas soluções propostas pelo relatório incluem a criação de um modelo de investimento estratégico portuário irlandês, atualização da Política Nacional de Portos para permitir que o Estado invista na infraestrutura portuária para energia renovável offshore e a colaboração entre portos, indústria e agências governamentais para identificar soluções em conjunto.
Ao envolverem-se precocemente no mercado de energia eólica offshore, os portos podem construir uma posição favorável entre os desenvolvedores, reduzir a dependência das indústrias fósseis em declínio e diversificar os seus mercados.
O relatório destaca, assim, a importância do apoio financeiro do governo para atrair investimentos privados e impulsionar o setor de energia eólica offshore.
A indústria de energia eólica flutuante coloca uma procura ainda maior sobre os portos em comparação com os projetos de fixos.
Componentes como as grandes turbinas e as subestruturas flutuantes necessárias para a sustentação exigirão um porto de instalação após a fabricação.
Um porto de instalação precisará de produzir, armazenar, integrar, lançar e armazenar as turbinas FLOW na água antes de serem rebocadas para a sua localização final. Isto para além da produção de cabos de amarração ao fundo e de ligação elétrica. São muitos milhares de milhões de investimento e milhares de empregos qualificados.
O papel dos portos não termina quando a instalação está concluída. A operação, manutenção, monitorização e reparação serão necessárias ao longo da vida útil dos parques eólicos offshore. Em Portugal estão previstas cerca de 600 turbinas offshore.
Esses ativos exigirão monitorização contínua, especialistas no local, inspeções e reparações de sistemas, componentes, pás e cabos. Para os projetos offshore, espera-se a substituição de grandes componentes nos portos, requerendo espaço significativo. 200 ha por porto, cais e áreas no mar.
Essa situação cria uma oportunidade significativa para os portos diversificarem as suas fontes de receita e se envolverem num novo mercado, oferecendo elevado valor para as regiões.
Ao envolverem-se precocemente no mercado de energia eólica offshore, os portos podem construir uma posição favorável entre os desenvolvedores, reduzir a dependência das indústrias fósseis em declínio e diversificar os seus mercados.
Além disso, ao desempenharem um papel central na energia eólica offshore, os portos podem desenvolver um papel maior na transição energética, tornando-se uma base para empresas de instalação offshore, um hub para eletricidade offshore e outros transportadores de energia, e um hub de transporte para novas fontes de energia e combustíveis alternativos. Trata-se de uma revolução completa a ocorrer entre 2027 e 2030/2040.
As atividades e instalações de energia eólica offshore podem ser combinadas de forma inteligente com atividades de petróleo e gás offshore, desmantelamento e oportunidades de comércio de cargas novas de projeto.
No entanto, o desenvolvimento de infraestruturas portuárias para energia eólica offshore apresenta desafios significativos em termos de financiamento, retorno financeiro e viabilidade, engenharia e construção.
A incerteza nos prazos dos projetos e na dimensão e dimensionamento da infraestrutura necessária pode complicar o planeamento espacial.
Além disso, os requisitos exigentes dos desenvolvedores de parques eólicos offshore e a falta de diretrizes claras podem complicar o processo de planeamento, licenciamento e autorização.
Além disso, os portos precisam de financiamento substancial para apoiar o desenvolvimento de energia eólica offshore, pois a atualização e expansão da infraestrutura portuária exige investimentos significativos.
Para superar esses desafios, é recomendável procurar a ajuda de especialistas que possam apoiar o desenvolvimento de cenários de investimento em energia eólica offshore no porto. Esses especialistas podem ajudar a entender a adequação do porto para facilitar projetos de energia eólica offshore e fornecer assistência no planeamento económico e estratégia.
O envolvimento dos portos no desenvolvimento de energia eólica offshore oferece oportunidades significativas, mas também apresenta desafios.
Voltando aos Estados Unidos, esta potência enfrenta lacunas significativas no seu sector transformador e nas infraestruturas, que colocam obstáculos ao desenvolvimento de parques eólicos offshore.
De acordo com um relatório do Laboratório Nacional de Energia Renovável (NREL), a infraestrutura portuária e a construção de navios são grandes obstáculos que exigem um investimento mínimo de US$ 20 mil milhões para serem superados.
Sem este investimento adicional, metade dos projetos de energia eólica offshore em preparação correm o risco de ser adiados para além de 2030.
Além disso, o relatório afirma que os EUA exigirão pelo menos 24 instalações de componentes com custos entre US$ 200 e US$ 400 milhões cada e um tempo de conclusão de 3 a 5 anos. O relatório serve como um apelo à ação para várias partes interessadas, incluindo portos, construtores navais, desenvolvedores, fabricantes e sindicatos, trabalharem juntos e alcançarem a meta de instalar 30 gigawatts (GW) de energia eólica offshore nos Estados Unidos até 2030.
O relatório dos EUA sobre as perspetivas da cadeia de abastecimento de parques eólicos identificou vários subcomponentes que representam desafios para a fabricação doméstica de componentes, incluindo rolamentos, flanges e outros grandes componentes fundidos ou forjados, placas de aço para monoestacas ou torres, sistemas elétricos para subestações offshore e cadeias de amarração.
No entanto, desde a divulgação do relatório, tem havido uma resposta positiva, com as empresas a manifestarem interesse em aderir à cadeia de abastecimento de energia eólica offshore.
Atualmente, há mais de uma dúzia de grandes instalações de fabricação de componentes planeadas, incluindo a instalação da Nexans, na Carolina do Sul, para cabos submarinos de alta tensão e a instalação EEW, em Nova Jersey, para monoestacas.
O Porto de Long Beach também propôs a instalação “Pier Wind”, que visa tornar-se a maior instalação dos EUA para a montagem de turbinas eólicas offshore.
O relatório destaca o aumento da capacidade das turbinas eólicas para 15 MW e a necessidade de planeamento de infraestrutura para acomodar tamanhos maiores.
Embora a maioria dos parques eólicos na Costa Leste esteja fixada no fundo até 2030, há planos para turbinas eólicas flutuantes offshore na Costa Oeste.
Os portos podem aceder a financiamento público, como o Programa de Desenvolvimento da Infraestrutura Portuária (PIDP), para apoiar o desenvolvimento da infraestrutura eólica offshore.
Os desafios da força de trabalho incluem escassez de trabalhadores qualificados, como soldadores, e requisitos de certificação específicos para a indústria eólica offshore.
Acordos de trabalho de projeto com empresas de construção civil são muitas vezes necessários para projetos eólicos offshore, garantindo condições de trabalho e salários justos.
Em conclusão, temos na frente uma forte oportunidade e grandes desafios para os portos.
VÍTOR CALDEIRINHA
As eólicas off shore podem também ser utilizadas como estruturas para a aquacultura off shore obtendo-se uma enorme sinergia entre a produção de energia e a produção de pescado, no que resulta numa potenciação da economia azul em pleno!