Portugal e Espanha devem chegar rapidamente a acordo para o desenvolvimento do corredor ferroviário do Atlântico, em particular no eixo fronteiriço Évora-Mérida. O aviso é da comissária europeia dos Transportes, Violeta Bulc.
“Precisamos completar todos os corredores planeados antes de 2030 e o troço de Évora a Mérida é uma peça muito importante que falta no corredor de transporte de mercadorias que vai de Portugal para Espanha, França e mais além. É um projecto de grande valor acrescentado para toda a Europa”, afirmou Bulc, em entrevista conjunta ao “Expresso” e ao “Cinco Días”.
A comissária europeia salientou que a ligação será importante para o transporte de mercadorias, mas também para o de passageiros. E lembrou os compromissos assumidos com a Comissão Europeia, em termos de prazos e de características das ligações. A linha será electrificada e com uma velocidade entre 180 e 250 km/h. Mais do que de Alta Velocidade tratar-se-á de garantir a conectividade. E a ligação de Portugal ao mercado único.
Recordada que após a construção do troço até Évora continuará a faltar a ligação a Lisboa, do lado de cá da fronteira, Violeta Bulc respondeu que “a construção do troço transfronteiriço poderá servir de catalisador para o restante da infra-estrutura pendente”.
A comissária europeia justificou a “pressa” na conclusão do corredor também com a antecipação dos efeitos do Brexit nos cofres de Bruxelas. A saída do Reino Unido representará um “buraco” anual de dez mil milhões de euros. Após o Brexit, “mais terá de ser feito com menos dinheiro” e os fundos europeus serão concentrados em projectos de interesse comum. “Não é uma ameaça, mas se se coloca dinheiro europeu tem de ser com base em critérios europeus e a prioridade são os troços transfronteiriços que faltam”, indica.
A hesitação de Lisboa e Madrid em avançar com a ligação ferroviária Évora-Mérida pode, por isso, deixar os dois países ibéricos sem acesso a fundos estruturais, cada vez mais escassos e orientados para a Europa Central e de Leste.